Infelizmente, muito se fala sobre criminalidade no Brasil, e o documentário “Ônibus 174” é uma das obras inspiradas por tristes episódios recorrentes em nosso país. Dirigido por José Padilha, o filme é de 2002, e mostra de forma próxima muito sensível uma visão sobre uma das histórias mais tristes e marcantes de nosso país.
Para quem não se lembra, o fato ocorreu no ano de 2000, no Rio de Janeiro, quando Sandro Barbosa do Nascimento, desempregado, 20 anos, manteve várias pessoas como reféns no ônibus da linha 174, no dia 12 de Junho. O acontecimento chamou atenção a ponto de haver uma transmissão dos momentos pela mídia, o que chocou e manteve boa parte do país em frente aos televisores.
Enquanto a polícia do Rio tentava negociar com Sandro, o mesmo, impaciente, gritava, ameaçava e tratava os reféns com muita agressividade, inclusive arrastando mulheres pelo ônibus, puxando-as pelos cabelos para a frente ou traseira do veículo, mesmo com o ônibus todo cercado de policiais, até o anoitecer.
Boa parte dos documentários usam de simulações e dramatizações, porém em “Ônibus 174“, é usado conteúdo original: mais de 24 horas de material, capturado durante as cinco horas nas quais o incidente aconteceu. O filme mostra, com detalhes, momentos marcantes, junto aos comentários das testemunhas que relembram e analisam os eventos capturados em câmera.
Entre as entrevistas, muitas com pessoas que conheciam Sandro foram realizadas, o que enriquece muito a narrativa de Padilha. Algumas pessoas cedem seus depoimentos e opiniões encapuzadas, como um traficante e um policial, por ordens de seu departamento.
Sandro chegou a ver sua própria mãe sendo assassinada quando tinha 6 anos e acabou se tornando um morador de rua desde então. Também é um dos sobreviventes do massacre da Candelária, no qual crianças de rua foram assassinadas por pistoleiros em frente à Igreja da Candelária.
Depois, a vida de Sandro se tornou uma sucessão de prisões, abuso de drogas e crimes na rua, um inferno que era testemunhado por assistentes sociais e padres que trabalhavam nas comunidades. Curiosamente, estes o considerava como um garoto tímido e doce ou até mesmo ingênuo. Outros reféns sobreviventes insistiam em dizer que o jovem armado estava tentando blefar para conseguir fugir, falando baixo a eles constantemente que não machucaria ninguém, mesmo se gritasse ameaças de morte para a polícia.
Por quê, exatamente, Sandro estava naquele ônibus? O que aconteceu depois de tudo e como? “Ônibus 174” abrange um pouco sobre como a crise começou. Quando chega ao fato do dia 12 de Junho, seu clímax, deixa uma sensação de partir corações. É um retrato único do crime e punição modernos, nos inspirando um terror sem filtros por meio de um evento trágico, capturado imediatamente em seu início, até o momento de seu fim.
Essencial para quem se interessa pelos fatos que levaram a um dos crimes que mais chocaram o Brasil. Comente, compartilhe!
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