Chernobyl, o local onde ocorreu o acidente nuclear mais letal do mundo, é agora um destino turístico surpreendentemente popular. Isso porque as autoridades ucranianas resolveram abrir a área para a visitação de turistas há quase uma década, declarando que as visitações eram totalmente seguras, embora os passeios sempre tenham sido rigorosamente regulamentados.
Desde então, milhares de pessoas se deslocam para essa região com objetivo de visitar um lugar turístico bastante incomum, além de ter a oportunidade de aprender mais sobre o que aconteceu na madrugada do dia 25 de abril de 1986. No entanto, se uma radiação letal ainda permeia a paisagem ao redor do local do acidente, então como esse local é considerado seguro para visitações? Por que os visitantes não correm nenhum risco com a exposição à radiação?
Comparando os níveis de radiação
Bem, para início de conversa, é preciso deixar claro que é verdade que a radiação em grandes doses pode causar danos aos tecidos, doenças agudas e até mesmo aumentar o risco de desenvolvimento de câncer, segundo registros da organização Sociedade Americana contra o Câncer. No entanto, as pessoas em praticamente todos os lugares da Terra são banhadas todos os dias por algum tipo de radiação, que é uma parte natural do ambiente. Isso inclui a radiação terrestre que emana da própria Terra, a radiação interna gerada pelos organismos vivos e a radiação cósmica do sol e das estrelas, de acordo com a Comissão Reguladora Nuclear dos EUA (NRC). Por isso, antes de abordarmos o assunto principal do post, precisamos comparar algumas medidas de radiação.
Para se ter uma ideia, em média, uma pessoa em um ambiente “comum” é exposta a cerca de 3 millisieverts (mSv) de radiação por ano, o que é considerado bem dentro dos níveis de exposição seguros. Para efeito de comparação, a radiação provocada pelas tecnologias de imagens médicas varia de menos de 1 mSv a cerca de 20 mSv para certos exames de tomografia computadorizada. Por isso, apenas os valores bem acima dos citados podem apresentar algum risco para os seres humanos. Por exemplo, doses de radiação de 50 a 200 mSv podem levar a danos cromossômicos, enquanto doses de 200 a 1.000 mSv podem causar uma queda temporária na contagem do número total de glóbulos brancos no sangue. O estágio mais grave de envenenamento radioativo, chamado “síndrome aguda da radiação”, pode surgir a partir de 2.000 mSv, sendo que a morte dentro de poucos dias se torna inevitável para aqueles que sofrem uma exposição maior que 10.000 mSv.
Os níveis de radiação podem variar bastante entre as localidades
Logo após o acidente nuclear em Chernobyl, dezenas de trabalhadores responsáveis pelo funcionamento e limpeza da usina foram expostos a níveis de radiação de 8.000 a 16.000 mSv, o equivalente a uma margem de 80.000 a 160.000 radiografias de tórax! Essa alta radiação fez com que pelo menos 134 trabalhadores desenvolvessem sérias doenças, além de 28 mortes diretas confirmadas. Quando o reator nº 4 da Usina de Chernobyl explodiu, ele liberou níveis mortais de radiação, mas a precipitação radioativa não foi distribuída uniformemente pela área circundante, devido às condições climáticas e à mudança de direção dos ventos.
Desse modo, alguns locais mais distantes do reator puderam se tornar locais radioativos, mas por outro lado, algumas vilas razoavelmente próximas da usina receberam contaminação de forma variável. Na verdade, até mesmo dentro dessas vilas, a radiação era distribuída de forma desigual e podia variar de rua para rua, como Fred Mettler, professor do Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Novo México, constatou quando visitou a região de 1989 a 1990 com o Comitê Científico dos Efeitos da Radiação Atômica da ONU (UNSCEAR). Em outras palavras, definir uma “área segura” envolve muitas medições e análises complexas, e não simplesmente designar uma área baseada em km², como foi feito nas primeiras evacuações pós-acidente.
No fim das contas, nem tudo por lá é absurdamente radioativo
O local mais perigoso de toda a região que engloba as ruínas do reator destruído de Chernobyl, agora está contido sob uma enorme cobertura de metal. Ainda que esse local seja altamente radioativo e provavelmente permanecerá assim por até 20.000 anos, essa estrutura serve como uma barreira para conter a propagação de radiação. As zonas em Chernobyl que estão abertas à visita do público são as que inicialmente receberam doses menores de radiação. Por isso, apesar desses locais ficarem relativamente próximos ao reator danificado, eles são seguros para visitações. Também vale destacar que, antes do acidente, os níveis de radiação em torno de Chernobyl eram relativamente menores do que a média global, o que pode ter ajudado a minimizar o aumento de radiação na região após o fatídico evento.
No entanto, ainda assim existem certas preocupações com a segurança da radiação mesmo nos locais considerados seguros. Por causa disso, os turistas geralmente ficam restritos a certas áreas e não têm permissão para andar por conta própria e por qualquer lugar. Desse modo, todos os visitantes devem ser acompanhados pelos agentes turísticos da Chernobyl Tour, a agência de turismo ucraniana responsável por administrar e controlar as visitações.
Como são realizadas as visitações a Chernobyl?
Uma visita de um dia completo a Chernobyl e a cidade de Pripyat começa e termina com a passagem por um posto oficial de controle de dosimetria, que é basicamente a medição de radiação, mas também há um ponto de verificação de radiação adicional na metade do passeio, de acordo com a Chernobyl Tour. Os visitantes não podem tocar em estruturas e plantas ou remover qualquer coisa da zona. Eles também são proibidos de ficarem sentados ou deixar qualquer equipamento (como câmeras e celulares) em contato com o solo.
Aproximadamente 60 mil turistas visitaram Chernobyl apenas em 2018, disse recentemente Anton Taranenko, chefe do Departamento de Turismo e Promoção da Administração da Cidade de Kiev em uma coletiva de imprensa. Segundo Taranenko, de todas as localidades turísticas mais populares na Ucrânia, a zona de Chernobyl é a líder isolada. E a tendência é que os números aumentem ainda mais! Isso porque os representantes da agência de turismo ucraniana afirmaram que o número de reservas para Chernobyl aumentou cerca de 30% em maio, em boa parte devido à popularidade da mini-série da HBO que retrata os acontecimentos antes, durante e após o acidente nuclear.
E você, gostaria de fazer um passeio turístico do tipo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!