Se você costuma assistir a filmes de faroeste ou episódios do Pica-Pau, é bem provável que você já tenha ouvido falar de uma certa mulher chamada Jane Calamidade. Mas embora muita gente possa pensar que Jane Calamidade é uma mera personagem da ficção, ela realmente existiu e foi uma figura controversa no Velho Oeste, cujas aventuras e façanhas sempre estiveram envoltas em mistério, lendas e autopromoção.
Calamidade ficou mais conhecida por geralmente se vestir e trabalhar como os homens da época, além do fato de ter sido uma grande apreciadora de bebidas alcoólicas e por ter ótimas habilidade com armas e cavalos. No entanto, alguns detalhes de sua vida não são totalmente comprovados, dada a quantidade de boatos que circundam a sua história.
Ainda assim, nós do TriCurioso resolvemos nos aprofundar na história misteriosa de Jane Calamidade para explorar a sua curiosa trajetória. Confira!
Crescendo em uma época complicada
Jane Calamidade nasceu com o nome Martha Jane Canary no ano de 1856, embora ela alegasse que havia nascido em 1852, perto de Princeton, Missouri. Seu pai, Robert, era fazendeiro viciado em jogos de azar, enquanto sua mãe, Charlotte, era uma prostituta analfabeta. Em sua autobiografia, Calamidade afirma ter sido a filha mais velha de cinco irmãos, passando a maior parte de sua infância no Missouri cuidando de cavalos.
No início dos anos 1860, a família de Jane resolveu se mudar para o estado de Montana com o objetivo de tentar fazer um fortuna com a suposta presença de ouro no local. No entanto, ao chegar lá, sua mãe morreu de pneumonia, enquanto seu pai veio a falecer logo depois de levar seus filhos para Salt Lake City. Não está claro o que aconteceu com seus irmãos, mas o que é possível saber é que, quando ela tinha cerca de 15 anos, Jane já estava sozinha no mundo.
Saindo de Salt Lake City, ela foi morar em Piemonte, Wyoming, onde arrumou um emprego em uma pensão para dançar com soldados à noite. Embora mais tarde ela tenha alegado ter passado a adolescência em “muitas missões perigosas” nas Guerras dos Índios Americanos no Arizona, a sua própria autobiografia diz que ela passou muito tempo trabalhando como lavadeira, dançarina e prostituta ao longo da estrada de ferro que cruzava o Wyoming.
Passando de uma prostituta órfã para uma das mulheres mais famosas do Velho Oeste
Em Wyoming, Jane logo começou a desenvolver a identidade que a tornaria famosa como “Calamidade”. Basicamente, ela sabia muito bem como atirar, gostava de se vestir de homem (ou recusava-se a se vestir como as mulheres da época) e, assim como os homens, mascava tabaco e bebia muito álcool. Isso a diferenciava facilmente das outras mulheres, o que por si só já ajudava a construir a sua fama.
No entanto, Jane só viria a ganhar uma grande popularidade em 1876, em Dakota do Sul, onde ela se envolveu com outros nomes famosos do Velho Oeste, como Wild Bill Hickok. De fato, foi a sua personalidade e os seus relacionamentos que chamaram a atenção do escritor Edward Wheeler, que popularizou Jane Calamidade em suas histórias populares como uma heroína do Velho Oeste.
Já a origem do apelido “Calamidade” é, como boa parte de sua vida, bastante incerta. No entanto, existem algumas teorias. Uma das mais famosas diz que, certo dia, Jane resgatou um homem com seu cavalo durante uma invasão praticada por nativos americanos. Na ocasião, o suposto homem que foi salvo a teria chamado de “Calamidade” por conta do seu feito arrebatador. Já uma outra teoria, mais simples, diz que ela recebeu esse apelido porque sua vida era uma verdadeira “calamidade”.
Atos de bravura e bondade
Embora o apelido de “calamidade” evoque a imagem de uma pessoa fora-da-lei e rodeada de pistoleiros, uma boa parte da reputação de Jane veio de alguns atos de bravura e caridade. De fato, alguns escritores da época citaram que ela sempre foi conhecida por sua simpatia, generosidade e feliz cordialidade. Não importava para ela se uma pessoa era rica ou pobre, branca ou negra, ou quais eram as circunstâncias. Jane Calamidade era uma pessoa que tratava todos da mesma forma.
Além disso, sua bolsa estava sempre aberta para ajudar algum sujeito faminto, de modo que ela foi uma das primeiras de sua época a oferecer ajuda em casos de doenças e acidentes. Tanto é que a história conta que, quando a varíola devastou Deadwood em 1878, Jane Calamidade se responsabilizou pelos cuidados de oito garimpeiros aflitos.
A morte de uma lenda
Com o sucesso das suas histórias circulando o Velho Oeste, Jane Calamidade resolveu usar a sua notoriedade para vender fotos de si mesma por um dinheiro extra. Depois de publicar sua autobiografia de 1896 (que foi escrita com a ajuda de uma outra pessoa, pois Jane era analfabeta), ela chegou a aparecer em shows e rodeios em muitos lugares, virando uma espécie de “ícone pop do Velho Oeste”.
Em 1903, ela morreu perto de Deadwood por conta de uma “pneumonia e uma grave inflamação dos intestinos”, essa última sendo provavelmente causada pelo alcoolismo. De fato, o seu vício fazia com que ela aparentasse ser bem mais velha do que realmente era.
O legado
Com tanta aventura e desinformação em torno da vida de Jane Calamidade, a sua persona conseguiu assumir facilmente uma variedade de formas na ficção popular. Por exemplo, no filme “Ardida como Pimenta”, de 1953, a atriz americana Doris Day fez um retrato alegre e relativamente hilário da dura vida da aventureira, interpretando uma Jane que adorava cantar, dançar e se envolver em travessuras alegres.
Por outro lado, na série de TV “Deadwood”, a Jane Calamidade interpretada pela atriz Robin Weigert é uma caçadora dura na queda e que consegue acompanhar os homens em praticamente todas as suas habilidades.
Mas, de certo modo, a vida relativamente desconhecida de Jane Calamidade pode ser um ótimo atrativo, especialmente para a indústria do entretenimento. Assim, cada produção pode apresentar a personagem nos moldes que bem entender, carregando consigo apenas o nome e algumas características básicas de uma das figuras mais icônicas (e misteriosas) do Velho Oeste.
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