Guerras em geral são causadas por graves problemas de diplomacia e sempre possui algum estopim bem grave. Entretanto, você sabia que a Primeira Guerra Ítalo-Etíope foi causada por um erro de tradução? Vamos saber mais agora!
A origem
A Primeira Guerra Ítalo-Etíope seria a invasão da Itália na Etiópia nos anos de 1895 e 1896 sendo um dos poucos casos de resistência armada ao colonialismo europeu que ocorreu no século XIX. Caso você não saiba, a Etiópia é um país existente desde os tempos bíblicos, o reino de D’mt (980-400 a.C) possuía territórios na Etiópia, Eritreia e Iémen e de lá teria saído a rainha de Sabá que foi mencionada na Bíblia. Ela teria vistado o rei Salomão em Jerusalém e apesar da história bíblica falar sobre um contato diplomático, a versão etíope é bem diferente.
A rainha de Sabá teria voltado gravida e daí nasceu a linhagem nobre da nação. O rei de D’mt foi sucedido pelo Império de Axum que durou até 940 depois de uma sucessão de dinastias. Reinos e territórios foram conquistados e perdidos, porém três coisas sempre se mantiveram: os imperadores descendentes de Salomão, o idioma aramaico e o reino era cristão através da tradição da Igreja Ortodoxa Etíope.
Neste período a Itália era uma nação recém-fundada que era dividida ou conquistada desde a queda do Império Romano que ocorreu em 476, sendo só unificada em 1870 pelo rei Vítor Emanuel II. Neste período o país era agrário e muito pobre, sendo que 25 milhões de italianos migraram de lá em busca de vidas melhores – muitos vieram para o Brasil. Neste período para não ficar para trás a Itália entrou ‘na moda’ de criar colônias na África, assim fazendo com que a Europa Ocidental dominasse praticamente todo o continente europeu de 1880 a 1900.
A pré-guerra
Neste período só se manteve independente a Etiópia seguida pela Libéria. Quer dizer, a Etiópia perdeu seu acesso ao mar em 1559 para o Império Otomano em uma guerra onde tiveram os portugueses como aliados. Então, em 1884 o Reino Unido levou o imperador etíope Yohannes IV para um conflito contra os fanáticos madistas do Sudão. Neste período os sudaneses acreditavam que Muhammad Ahmad era o messias islâmico. Em troca da ajuda, os ingleses reconheceriam a soberania etíope sobre o litoral. PORÉM, os ingleses não cumpriram sua promessa e ainda estimularam os italianos a colonizar a costa para demonstrar sua soberania contra a França, seus adversários na época que teriam dominado a Somália.
Porém, é claro que a Etiópia resistiu e em 1887 7 mil deles infelizmente foram massacrados por uma força de 500 soldados italianos. Porém, devido a guerra feroz contra os madistas, não foi possível impor sua presença no litoral e em 10 de março de 1889 Yohannes foi morto na Batalha de Matama. Sua cabeça foi espetada em uma lança e carregada pelos madistas pelas ruas da capital Ondurmã.
Porém, antes de sua captura, Yohannes tornou seu sobrinho Mengesha seu sucessor, dizendo que ele era na verdade seu filho. Porém, muitos nobres não aceitaram, entre eles estava Menelik, rei de Shewa, vassalo de Yohannes e seu sucessor natural. Em 25 de março ele se auto-proclamou o verdadeiro negusa nagast e passou todo o ano em conflito e negociações com os demais etíopes até ser realmente reconhecido como soberano em 3 de novembro. Foi neste período que Menelik incluiu apoio a Itália em troca de armas e reconhecimento. Porém, em 2 de maio foi assinado um Tratado de Wuchale que cedia toda a costa para os italianos que a batizaram de Eritreia.
O erro de tradução
Neste tratado que morava o perigo… em aramaico o artigo 17 dizia que o imperador poderia fazer uso dos serviços diplomáticos da Itália. Agora, na versão italiana era possível ler que só poderia ser utilizada a diplomacia por meio da Itália, transformando o Imperador Menelik num vassalo. É claro que ele percebeu a diferença, mas preferiu não agir naquele momento porque precisava consolidar seu poder através das armas europeias.
Porém, em 1893 foi declarado que o tratado não tinha validade e é claro que os italianos não deixaram barato, movendo tropas até a fronteira e invadindo a Etiópia. Então em 13 de janeiro de 1895 as tropas de Mengesha Yohannes foram colcoadas para correr já que o filho do imperador estava em menor número. Essa foi a única vitória europeia, depois disso os italianos recuaram sua posição e em dezembro, já estavam perto de Adwa. Por semanas aguardaram o ataque dos etíopes, entretanto Menelik era muito experiente e decidiu esperar até que a moral das tropas estivesse baixa e os suprimentos acabando. Foi quando o general Oreste Baratieri decidiu mesmo assim manter posição, porém o governo da Itália achou a situação vergonhosa e no final de fevereiro, Baratieri recebeu a ordem para atacar.
A Guerra
Então, no dia 1 de março de 1896 18 mil italianos abandonaram suas fortificações e se moveram para as colinas de Adwa, porém seus mapas eram precários e suas forças foram isoladas. A espectativa era encontrar um exército de 30 mil etíopes, porém encontraram na verdade 100 mil com 80% mais armas. Foi um verdadeiro massacre e em pouas horas 7 mil italianos foram mortos, 1,5 mil feridos e 3 mil capturados.
Os generais de Menelik insistiram para rumar até Eritreia, porém o Imperador sabia que os italianos ainda teriam recursos para reagir se acabassem sendo provocados. As notícias de sua derrota causaram comoção no país e muitos protestos ocorreram até a renúncia do primeiro-ministro Francesco Crispi. Baratieri acabou enfrentando a corte marcial, porém foi inocentado e em 23 de outubro o Tratado de Addis-Abeba deu fim à guerra, assim reconhecendo a soberania etíope.
Para os negros a Etiópia se tornou mítica, era um exército africano capaz de vencer o colonialismo branco. Já no lado italiano foi um vexame que levou a um profundo ressentimento e consequências sérias. Em 1936 II Duce realizou uma nova invasão na Etiópia onde utilizou armas químicas e conquistou o país e o dominou até 1941 quando os britânicos retomaram-nos para os etíopes.
A história é simplesmente assustadora… Não é mesmo? Comente!