A maior potência de um país costuma ser a sua própria força de trabalho, ou seja, a sua população. No entanto, se a taxa de crescimento da população não for mantida em um certo equilíbrio (como acontece quando ocorre um aumento populacional acompanhado de um incremento na população não qualificada), a mesma mão-de-obra pode se tornar um problema desafiador para o governo e o país como um todo.
Vamos usar uma situação fictícia como exemplo. Imagine que existe uma casa com capacidade para 20 pessoas no total, com suprimento de água, espaço para morar e todas as coisas especialmente projetadas para acomodar e atender às necessidades de seus moradores. Só que, com o passar do tempo e à medida em que as famílias que moram na casa começam a se expandir, o total de pessoas que vivem na casa passa a ser 30.
Consequentemente, alguns problemas começam a surgir, incluindo falta de água e, o mais importante, a ausência de espaço na casa. Tudo isso acaba forçando alguns moradores a dormir no chão e a beber menos água, devido à disponibilidade limitada de recursos. A renda da família também é limitada e, portanto, a alimentação se torna muito difícil, tornando os indivíduos desnutridos e consequentemente atrapalhando o orçamento da família com problemas de saúde.
No exemplo acima, vemos que, devido à “superpopulação”, a disponibilidade de recursos naturais, amenidades básicas, espaço de acomodação, situação financeira e o padrão de vida das famílias acabam diminuindo drasticamente. Foi exatamente isso o que aconteceu na China durante grande parte do século passado, até que em 1980 a “política do filho único” surgiu como a salvação da nação. Embora tenha sido criada como medida temporária pelo governo chinês para combater a explosão da população ela só viria a ser revogada em 2016.
Como você já deve ter percebido, a superpopulação é uma verdadeira ameaça aos recursos naturais de um país, de modo que a sustentabilidade de uma grande população é uma tarefa muito desafiadora e complexa para qualquer governo no mundo. Os líderes visionários da China já enxergavam isso há muito tempo e começaram a promover o uso de contraceptivos já em 1953.
Ciente dos problemas que a superpopulação criaria no futuro próximo, mais especificamente entre 1955-1957, o líder supremo da China na época, Mao Tsé-Tung, resolveu discutir o assunto e foi convencido por um dos economistas chineses mais famosos e pelo então presidente da famosa Universidade de Pequim a criar uma comissão nacional de planejamento familiar.
Porém, devido ao movimento do Grande Salto Adiante no ano de 1958, o líder supremo voltou à adotar sua antiga política de que “mais pessoas significava mais poder” e a comissão de planejamento familiar foi dissolvida. O foco de Mao era promover uma rápida transformação do país de um lugar totalmente agrário para uma sociedade socialista através da industrialização e agricultura coletiva. Em 1962, a comissão de planejamento familiar foi estabelecida em todo o país, mas esse movimento foi interrompido devido à Revolução Cultural na China.
No início da década de 1970, a população da China já havia atingido 800 milhões de pessoas, o que afetou negativamente a economia e que veio a deteriorar os padrões de vida dos chineses devido à superpopulação, tornando-se assim um obstáculo ao objetivo do país de se tornar uma superpotência econômica. Para combater isso, o governo iniciou uma nova comissão de planejamento familiar em 1971. Como o crescimento exponencial da população chamou a atenção das autoridades, a política do filho único foi introduzida oficialmente em 1980.
Curiosamente, muitos especialistas divergem até hoje sobre a eficácia da política do filho único. Alguns pensam que essa decisão foi tomada às pressas e foi completamente política, sendo também baseada em um entendimento demográfico muito equivocado.
Para provar isso, uma equipe de acadêmicos de várias instituições chinesas voltadas para o estudo do crescimento populacional foi formada no ano de 2001. Segundo a pesquisa da equipe, se a política não fosse descontinuada, ela traria sérios efeitos colaterais, pois estava prejudicando os dados demográficos do país da pior maneira possível. Alguns também diziam que a política era discriminatória contra as mulheres, pois elas eram forçadas a esterilizações e abortos. De fato, a China tinha uma das maiores taxas de suicídio entre meninas jovens em idade reprodutiva.
Uma boa parte da população chinesa também acredita que as medidas forçadas da política do filho único geraram descontentamento e ansiedade entre as famílias com vários filhos (antes da política), de modo que esse descontentamento acabou levando a consequências negativas. Segundo uma pesquisa, 90% das crianças que viviam em áreas urbanas na China não tinham irmãos, enquanto que o mesmo acontecia com 60% das crianças que viviam em áreas rurais.
No entanto, olhar apenas para os aspectos negativos de qualquer coisa não é justo. É preciso deixar claro que a política do filho único também trouxe alguns aspectos positivos para a China. Como o crescimento da população foi reduzido drasticamente, a redução nas taxas de fertilidade aliviaram boa parte das pressões sobre as comunidades, o estado, as mulheres e até para o meio ambiente. Alguns analistas do governo chinês também acreditam que o constante crescimento econômico do país nos últimos anos também tem uma certa ligação com a política.
A política de filho único da China foi muito eficaz no controle da explosão da população no país, mas sempre permaneceu sob uma visão mista de apreciadores e críticos. Cerca de 400 milhões de nascimentos foram evitados nas últimas três décadas e meia, mas isso fez com que a população em idade ativa começasse a encolher, juntamente com as taxas de natalidade e fertilidade.
Devido ao aumento da população de idosos que reduziu a força de trabalho, os líderes chineses chegaram à conclusão de que, se tudo continuasse do mesmo jeito, o sistema de previdência do país poderia colapsar em um futuro próximo. Por isso, a China decidiu revogar a política do filho único em 1º de janeiro de 2016, permitindo que cada casal chinês passasse a ter o direito de ter dois filhos.
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