Se você já se viu em uma tarde preguiçosa olhando atentamente para o seu aquário, imaginando que mistérios estariam passando na cabeça de seus amigos aquáticos, você pode até já ter desejado compartilhar um estilo de vida tão flutuante. De fato, os peixes são criaturas incríveis, capazes de sobreviver debaixo d’água com a ajuda de várias das suas adaptações especializadas.
Se você é uma pessoa que possui uma certa compreensão da anatomia dos peixes, ainda que bastante limitada, já deve saber que esses animais possuem brânquias, assim como muitas outras criaturas marinhas, o que lhes permitem extrair oxigênio da água para respirar. Consequentemente, o fato dos peixes contarem com essa característica invejável pode fazer alguém pensar: afinal, o que aconteceria se eu colocasse um peixe em um tipo diferente de líquido? Será que essa criatura conseguiria sobreviver?
Antes de abordarmos essa questão que envolve o curioso estilo de vida dos nossos preciosos amigos de barbatanas, precisamos primeiramente conhecer algumas coisinhas sobre peixes, água, brânquias e o delicado equilíbrio que permite que essas criaturas prosperem em diferentes partes do mundo.
Como exatamente os peixes respiram debaixo d’água?
Como você provavelmente já sabe, a água em nosso planeta possui um alto nível de oxigênio dissolvido. Para quem não sabe, oxigênio dissolvido é a concentração de oxigênio livre não composto em um líquido. Na água, essas moléculas de oxigênio não acopladas (O2), não são contadas entre as moléculas de oxigênio ligadas ao hidrogênio. Portanto, este oxigênio dissolvido está disponível para uso, desde que possa ser separado do H2O. Para superar esse problema e utilizar o oxigênio encontrado na água, os peixes desenvolveram brânquias, órgãos emplumados cobertos de vasos sanguíneos.
Quando os peixes abrem a boca e absorvem água, eles forçam a água de volta para as brânquias, onde o oxigênio dissolvido é filtrado e absorvido pelas finas paredes dos vasos sanguíneos. É através desse processo que os peixes conseguem respirar, assim como é o caso de muitas outras formas diferentes de vida marinha. Esse oxigênio dissolvido na água é produzido como um subproduto da fotossíntese de plantas aquáticas (como por exemplo, algas e algas marinhas), mas também entra na água difundindo lentamente através da superfície da água do ar.
Isso soa como um processo bastante simples, mas na prática ele é altamente dependente de variáveis na água, como a salinidade, razão pela qual os peixes de água salgada não podem sobreviver na água doce e vice-versa. Além disso, existem outros fatores ainda mais complexos que também devem ser considerados, como a densidade da água, outras concentrações de soluto, outros gases dissolvidos e o equilíbrio do pH da água.
Para se ter uma ideia, existem mais de 30 mil espécies diferentes de peixes que já chegaram a ser identificadas até os dias de hoje, cada uma delas especialmente adaptada aos seus respectivos ecossistemas. As águas nessas áreas específicas são ideais para a sobrevivência de cada espécie de peixe, de modo que grande parte das quais depende de sua capacidade de respirar oxigênio limpo, evitar fontes poluentes e de se adaptar normalmente ao líquido em questão.
Tá, mas os peixes podem respirar em algum outro líquido que não seja a água?
Embora o aspecto mais importante da respiração subaquática gire em torno da quantidade de oxigênio presente, essa não é a única consideração que deve ser levada em conta. Em alguns líquidos, como o chá, um peixe pode encontrar níveis muito semelhantes de oxigênio, pois o chá é amplamente composto de água. No entanto, as outras substâncias presentes na água (ainda que em níveis moleculares) seriam estranhas ao corpo do peixe, de modo que as concentrações seriam diferentes daquelas para as quais o seu corpo estaria adaptado para lidar.
Os peixes até são capazes de controlar muito bem seu equilíbrio osmótico, mas se forem repentinamente colocados em um ambiente em que a concentração de soluto seja dramaticamente maior ou menor do que seu ecossistema típico, suas células absorverão muita água, podendo inchá-los a ponto de explodi-los ou deixá-los completamente vazios, levando-os da mesma forma à morte celular.
Em uma substância como Coca-Cola ou suco de laranja, as concentrações de soluto seriam extremamente diferentes das da água e provavelmente haveria menos oxigênio dissolvido nesses líquidos, sufocando os peixes muito rapidamente. Além disso, o pH desses líquidos é significativamente diferente da água, o que também seria fatal para os nossos amigos subaquáticos.
No caso do leite, um outro líquido bastante comum no nosso dia a dia, o nível da água também é muito alto, mas não haveria tanto oxigênio dissolvido disponível, pois existem muitas outras moléculas no leite (como gordura, proteína, etc) que dificultariam a respiração.
Uma palavra final
É importante destacar que, dependendo do líquido, os peixes até podem sobreviver por quantidades variáveis de tempo e podem até se comportar normalmente quando retornados a um tanque cheio de água. No entanto, a verdade é que a maioria dos líquidos pode matar rapidamente um peixe como resultado de asfixia ou outros fins desagradáveis.
Embora haja uma certa escassez de pesquisas formais sobre esse assunto, certas evidências anedóticas de experimentos e até mesmo de conhecimento comum sobre as necessidades de respiração dos peixes sugerem que a grande maioria dos peixes seria incapaz de sobreviver em “líquidos alternativos” por um longo período de tempo. A menos que o líquido em questão estivesse perfeitamente equilibrado e cuidadosamente manipulado para reproduzir as águas de oceanos ou rios, isso traria efeitos negativos para a saúde do seu companheiro.
Ou seja, com tudo o que foi reportado, podemos concluir que os peixes podem respirar debaixo d’água por causa das suas várias adaptações físicas envolvendo taxas de salinidade da água e questões como pressão osmótica, além da evolução física das brânquias. Em outros líquidos, esses fatores não apresentariam os mesmos desenvolvimentos e, portanto, não favoreceriam a sobrevivência dessas criaturas.
Os peixes são animais incrivelmente interessantes, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!