Não é lá muito incomum ouvir alguns pseudo-amantes dos oceanos dizerem que as suas baleias favoritas são as “baleias assassinas”, ou sob terminologia menos ameaçadora e mais precisa, as orcas (orcinus orca). De fato, nem é preciso dizer que esses mamíferos marinhos são ícones oceânicos incrivelmente poderosos, mas tenho uma certa notícia sobre as orcas que pode surpreender alguns de vocês: a tal “baleia assassina” NÃO é tecnicamente uma baleia!
Se você está muito surpreso com essa afirmação, não se preocupe. Estou aqui justamente para esclarecer toda essa confusão sobre o que são ou não as orcas, além de como diferenciá-las dos outros colegas de cetáceos. Na verdade, as orcas até possuem muitas características em comum com as baleias, mas taxonomicamente elas são, na verdade, grandes golfinhos!
Ao longo deste artigo, nós vamos explorar alguns tópicos que ajudarão a clarificar esse assunto, que por sua vez pode ser muito surpreendente e intrigante para boa parte das pessoas.
Afinal de contas, por que as orcas são consideradas golfinhos?
Embora todas as baleias, golfinhos e botos se encaixem sob a ordem Cetacea, os dentes das orcas são os principais fatores que as classificam na subordem Odontoceti, tornando-os “baleias com dentes”, sendo que os dentes das orcas podem crescer até cerca de dez centímetros. Agora, você pode estar pensando: “Se elas são baleias com dentes, isso não as torna baleias?” Bem, elas são classificadas como baleias com dentes por causa de sua subordem, mas a sua família específica sob a subordem Odontoceti é a Delphinidae, dos golfinhos oceânicos.
Se você observar atentamente a composição física das orcas, verá que a aparência delas é muito mais parecida com as dos golfinhos e das toninhas do que com os primos mais frequentemente chamados de baleias, aquelas da subordem Mysticeti (as “baleias de verdade”). De fato, muitos golfinhos têm cabeças que se curvam em uma forma bastante bulbosa, semelhante a um bico, com corpos projetados especialmente para torná-los mais eficientes e aerodinâmicos em seus movimentos.
Ou seja, por apresentar um tipo de corpo relativamente “compacto”, o corpo da orca se parece muito mais com o de um golfinho do que com o de uma baleia de verdade. Além disso, o tamanho desses animais é um fator importante a considerar. As orcas são as maiores de todas as espécies de golfinhos, mas em comparação com seus primos Mysticeti, são muito pequenas. Para se ter uma ideia, as orcas podem atingir cerca de 8 metros de comprimento, enquanto a maior das baleias (a baleia azul), pode atingir incríveis 25 metros de comprimento!
Fatores relacionados à ecolocalização também devem ser levados em conta
Pensou que era só isso? Pois bem, há uma outra diferença facilmente notável entre orcas e a maioria das baleias que você também deveria conhecer. Enquanto muitas baleias adoram cantar canções elaboradas para se comunicar, a capacidade de ecolocar (usar o “sonar biológico” para detectar a posição e/ou distância de objetos em águas mais escuras através de emissão de ondas ultrassônicas) é uma habilidade específica das espécies do subgrupo Odontoceti.
Em outras palavras, isso ajuda essas criaturas a entender a topografia do fundo do oceano e das costas marítimas, além de alertá-las para a presença de grandes animais ou possíveis obstáculos subaquáticos. Alguns biólogos marinhos já chegaram a levantar a hipótese de que elas também emitem intensas explosões de sons para atordoar suas presas com o objetivo de facilitar a sua captura.
Na prática, isso acontece porque as suas cabeças contêm depósitos de gordura, popularmente chamados de “melões”, que são órgãos que emitem sons que “ricocheteiam” nos objetos em seus ambientes circundantes. Portanto, essa é uma outra característica que comprova que as orcas estão taxonomicamente muito mais próximas dos golfinhos, do que das baleias.
Uma questão envolvendo características comportamentais
É importante destacar que as orcas também compartilham muitas características comportamentais com os seus parentes golfinhos. Tal como acontece com muitas espécies de golfinhos, elas vivem em grupos e costumam fazer o uso de técnicas de caça cooperativas. Além disso, elas são frequentemente encontradas em águas rasas perto da costa marítima e não costumam mergulhar tão profundamente como outros animais cetáceos.
Curiosamente, as orcas não apenas atacam outras espécies de golfinhos, mas também comem animais que vivem em terra, incluindo focas, ursos polares, pinguins e até alces. Ajudadas por seus corpos aerodinâmicos, as orcas nadam rapidamente em uma busca ativa por presas, algo bem diferente das baleias, que geralmente nadam muito mais devagar e preferem comer minúsculos plânctons que flutuam na água.
Então, por que as orcas passaram a ser chamadas de “baleias assassinas”
Ostentando o título de maior membro da família dos golfinhos, as orcas são incrivelmente poderosas, podendo caçar qualquer coisa, desde aves marinhas e lulas a presas ainda maiores, como espécies de pinípedes (focas e leões-marinhos) e até tubarões ou baleias propriamente ditas.
De fato, historicamente falando, vários marinheiros começaram a chamar esses mamíferos marinhos de “baleias assassinas” depois que passaram a testemunhar as ações desses animais caçando mamíferos marinhos de tamanho considerável. Foi só com o passar do tempo e depois de várias descobertas científicas que o seu nome característico começou a cair em desuso, mas o fato é que muita gente ainda costuma chamar esses animais pelo apelido antigo.
Essa é uma explicação “padrão”, mas há um outro fator na diferenciação entre orcas e baleias que envolve o tamanho relativo dessas criaturas. Enquanto as orcas são membros da família dos golfinhos marinhos Delphinidae, seu tamanho geral é o que os diferencia dos outros membros da sua subordem. De fato, se um golfinho atinge um tamanho de mais de 7 metros de comprimento, ele pode ser referido erroneamente por alguns como uma baleia, mesmo que as regras da taxonomia ainda classifiquem a orca como um parente próximo do golfinho.
Um ponto que merece destaque é o fato de que, embora esses grandes animais sejam predadores que comumente ameaçam peixes e outros animais, até o ano de 2013 nunca houve um registro sequer de orcas selvagens atacando os seres humanos. Ou seja, a “baleia assassina” não é tão assassina como muita gente pensa, pelo menos não para nós, seres humanos.
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