No “calor do momento” (perdão pelo trocadilho) é um tanto fácil esquecer, mas a verdade é que a temperatura da água pode ser mais importante do que parece quando se trata de apagar um foco de incêndio, visto que isso afeta a eficiência da água na extinção do fogo.
No entanto, é um equívoco comum acreditar que pulverizar água fria no fogo vai apagar o incêndio mais rapidamente, sendo que, na realidade, a água quente é mais eficaz em apagar o fogo do que a água fria ou a água em temperatura ambiente. Isso é creditado a uma variedade de fatores, incluindo questões como a própria vaporização da água.
Só que, antes de entrarmos nesses detalhes mais complexos, vamos cobrir o básico ao compreendermos como a água, independente da temperatura, pode ajudar a apagar um incêndio.
Como exatamente a água apaga um incêndio?
Em termos metafóricos, o fogo é como um dragão de três cabeças. Desse modo, basta cortar qualquer uma das cabeças para matar a criatura. Essas três cabeças são o calor, o combustível e um agente oxidante, embora às vezes seja importante considerar uma quarta cabeça (a reação em cadeia). A aplicação de calor a qualquer combustível na presença de um agente oxidante é o que desencadeia um incêndio. Uma vez iniciado, o fogo queima todo o combustível disponível, sendo que essa propagação de reações é chamada de reação em cadeia.
No entanto, a remoção de qualquer um dos elementos de um incêndio acima mencionados é bastante difícil. Começando pela primeira “cabeça”, remover o calor requer o emprego de algum tipo de material que o absorva, o que tornará impossível a continuação da reação em cadeia. Por outro lado, a remoção de combustível não apaga instantaneamente um incêndio, mas restringe a sua dispersão. Por fim, o fogo precisa de oxigênio, de modo que sem um suprimento constante desse gás, o incêndio acaba morrendo.
Com tudo isso devidamente explicado, podemos finalmente compreender que a água extingue um incêndio ao cortar simultaneamente duas de suas “cabeças”: o calor e o agente oxidante. Ao ser pulverizada, a água logo apresenta um efeito de resfriamento no fogo. Esse resfriamento ocorre devido ao fato de que o calor do incêndio foi absorvido pela água líquida, que por sua vez se transforma em vapor.
Além disso, uma vez que a água líquida é convertida em vapor, ela estabelece uma barreira entre o combustível queimado e o oxigênio atmosférico. Assim, ela corta o suprimento de um agente oxidante. De fato, é exatamente desse modo que um extintor de pó também funciona. Quando alguém libera CO2 pressurizado de um extintor, a nuvem de CO2 resultante corta o suprimento de oxigênio ao fogo, fazendo com que ele acabe “morrendo”.
Tá, mas por que a água quente é melhor que a água fria?
A água em estado líquido (e em qualquer temperatura) é mais eficaz do que a maioria dos outros líquidos para apagar incêndios devido a suas propriedades químicas, especificamente por conta da sua capacidade de absorver calor e do calor latente de sua vaporização. No caso da absorção de calor, isso corresponde a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura em um Kelvin.
Você precisaria de cerca de 4,182 KJ/kg para aumentar a temperatura da água em 1 Kelvin. Assim, uma grande quantidade de calor é absorvida pela água quando ela é pulverizada no fogo, a fim de aumentar a sua própria temperatura. No entanto, o calor absorvido quando a água líquida se transforma em vapor é muito maior que 4,182 KJ/kg, o que aumenta ainda mais o efeito de resfriamento. Uma vez atingido o ponto de ebulição da água (100 ° c), o calor absorvido não é mais utilizado para elevar a temperatura, mas para romper as ligações entre as moléculas de água.
A quantidade de calor necessária para quebrar todas as ligações e converter a água líquida em vapor de água é chamada de “calor latente da vaporização”. No caso da água, o calor latente de vaporização é bastante alto, situando-se em cerca de 2.260 kJ/kg. Como a temperatura da água quente já está próxima do seu ponto de ebulição, é necessário menos tempo para atingir 100 ° c. Assim, o alto calor latente de vaporização entra em ação mais cedo para a água quente do que para a água fria, fazendo com que o calor seja absorvido mais rapidamente pela água com temperatura mais alta.
Além disso, uma conversão mais rápida em vapor significa um estabelecimento mais rápido de uma barreira entre a queima de combustível e o oxigênio. Na prática, essa combinação de maior absorção de calor ao converter a água em vapor e um estabelecimento mais rápido de barreira ajuda a água quente a apagar o fogo mais rapidamente do que a água fria.
Uma observação final
Como você pode ver, a água quente é cientificamente mais eficiente em apagar um incêndio, mas você ainda pode estar se perguntando o quão mais eficiente ela é se comparada à água fria ou à água em estado natural. Pois bem, a questão é que, honestamente, a diferença pode ser pequena demais para ser considerada, principalmente quando envolve um momento tão crítico que gira em torno da necessidade de apagar um incêndio.
No entanto, na próxima vez que você se deparar com um incêndio acidental e tiver água quente na mão, você poderá jogar sem medo a água quase fervendo nas chamas. Por outro lado, é importante deixar claro que você sempre deve ter cuidado ao usar água para apagar incêndios elétricos e químicos. Isso porque água é um bom condutor de eletricidade e pode ajudar a espalhar ainda mais esses incêndios, em vez de extingui-los.
No caso envolvendo os incêndios com produtos químicos, tais produtos podem conter agentes químicos menos densos que o vapor e, assim, continuar a extrair o oxigênio do ambiente, o que consequentemente mantem o fogo vivo.
Interessante, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!