O número de corpos no Monte Everest cresce à medida que alpinistas perdem a vida nas suas encostas. As principais causas de morte geralmente incluem hipotermia, exaustão, falta de oxigênio e quedas. Na maioria dos casos, depois que os corpos são congelados, eles acabam ficando cobertos de neve nas encostas do Everest permanentemente, pois o resgate dos cadáveres nem sempre é viável, seja por questões financeiras ou pelas condições climáticas adversas do local.
Um dos corpos mais famosos do Everest ganhou o apelido de “Botas Verdes”, por causa das botas de escalada de cor verde neon que usava. Uma das razões por trás da popularidade do Botas Verdes entre os montanhistas que escalam o Everest tem a ver com o fato de que ele morreu em um local muito específico na montanha, onde a maioria dos caminhantes deve passar. Como resultado, o corpo do Botas Verdes no Everest se tornou um dos pontos de referência para quem sobe as encostas.
Mas, afinal de contas, quem exatamente é o Botas Verdes? Embora ele seja muito popular entre os alpinistas, o público em geral não sabe a verdadeira história por trás de sua vida ou o que o levou a escalar o Everest. Pensando nisso, resolvemos abordar alguns tópicos que ajudam a explicar a história por trás do cadáver mais famoso do Everest.
Para início de conversa, acredita-se que o corpo que ficou conhecido como Botas Verdes seja o de Tsewang Paljor, um alpinista indiano que faleceu no que ficou conhecido como Desastre de 1996 do Monte Everest. De fato, o dia 10 de maio de 1996 marcou um dos episódios mais tristes na história do Everest. Quando uma nevasca maciça atingiu a montanha, ela acabou tirando a vida de oito alpinistas, incluindo Tsewang Paljor, culminando na maior contagem de corpos do Everest em um único dia.
Vários guias experientes morreram enquanto lideravam grupos de alpinistas com experiência mínima em montanhismo, como a socialite Sandy Pittman, que conseguiu sobreviver ao sofrer apenas pequenas queimaduras de gelo. Do grupo da polícia de fronteira indo-tibetana, da qual Paljor servia como membro, apenas um dos quatro oficiais sobreviveu.
Não se sabe muito sobre a vida pessoal de Tsewang Paljor, tirando o fato de que, depois de completar o 10º ano escolar, ele abandonou a escola para ajudar a sustentar sua família. Vindo de uma região indiana chamada Ladaque, Paljor cresceu ao redor das montanhas. Logo após deixar a escola, ele ingressou na Polícia de Fronteira Indo-Tibetana (ITBP), o que deixou sua família orgulhosa. Foi exatamente com membros do ITBP que ele fez a fatídica escalada que lhe custou a vida com apenas 28 anos.
Por quase 20 anos, o corpo de Tsewang Paljor, localizado não muito longe do cume do Monte Everest, serviu como um marcador sombrio para aqueles que procuravam conquistar a montanha mais alta do mundo a partir de sua face norte. Muitos perderam a vida no Everest e, assim como Paljor, a grande maioria deles ainda permanece na montanha. No entanto, no caso do corpo de Paljor, graças à sua proeminência e suas chamativas botas de cor verde, ele passou a ser um dos mais conhecidos.
“Eu diria que todo mundo, especialmente aqueles que escalam no lado norte, conhecem a história do Botas Verdes, já leram sobre o assunto ou ouviram alguém falar sobre ele”, diz Noel Hanna, um aventureiro que chegou ao topo do Everest sete vezes. “Cerca de 80% das pessoas também descansam no abrigo onde fica o corpo do Botas Verdes e é uma sensação comovente ver o seu corpo por lá.”
Por estar tão perto da trilha, o corpo de Paljor é facilmente visível para outros alpinistas. Infelizmente, durante certos níveis de queda de neve, suas pernas acabavam se estendendo para o caminho, de modo que os alpinistas tinham que literalmente passar por cima dele para seguir em frente. Embora isso não incomodasse alguns alpinistas, muitos outros acreditavam que era algo absolutamente desrespeitoso deixar o corpo de alpinistas mortos espalhados pelo caminho.
Em meados de 2014, alpinistas que escalavam o Everest relataram que o corpo do Botas Verdes havia sumido, tendo sido presumivelmente removido ou enterrado. Nos três anos seguintes, os escaladores nunca mais viram o seu corpo proeminente deitado ao longo da trilha. Embora a maioria dos montanhistas assumisse que o corpo havia sido removido ou coberto, a falta de evidências deixava um grande ponto de interrogação no ar.
As suspeitas decorreram até 2017, quando surgiram relatos de avistamentos do corpo do Botas Verdes. No entanto, os relatos parecem ser bastante desencontrados até hoje, pois alguns dizem que seu corpo permanece coberto por uma questão de respeito, enquanto outros dizem que o corpo foi descoberto pendurado ao lado de uma barraca próxima de um penhasco.
Embora ninguém saiba exatamente quantos corpos ainda permanecem no Monte Everest, a estimativa chega a mais de 280. Curiosamente, registros revelam a maioria dos sherpas e himalaias que residem na fronteira tibetano-nepalesa perecem na montanha em altitudes mais baixas, enquanto os estrangeiros perdem suas vidas mais perto do topo. De acordo com o banco de dados do Himalaia, também é possível notar um maior número de mortes de acordo com a proximidade do topo.
Outro ponto que merece destaque é que, por mais que as famílias das vítimas do Monte Everest desejem dar aos seus entes queridos um enterro adequado, isso raramente é uma possibilidade. Depois que os corpos ficam congelados no Everest, eles tornam-se extremamente difíceis de mover, sem falar nos desafios logísticos que a região impõe. Envoltos em gelo, eles também acabam fincando muito mais pesados, dificultando a sua remoção.
Na prática, é preciso o trabalho de vários sherpas (geralmente de seis a oito) que devem colocar suas próprias vidas em perigo, tornando esse tipo de operação totalmente inviável. Além disso, a remoção de um corpo geralmente custa milhares de dólares, então algumas famílias optam simplesmente por ocultar respeitosamente os corpos de qualquer olhar curioso ao longo da trilha.
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