Apesar do fato de que apenas um pouco mais de 530 pessoas chegaram a ir para o espaço até hoje, a ideia de viajar no espaço parece capturar a imaginação e o interesse das muitas pessoas em todo o planeta. Como seria a vida em Marte? Será que algum dia descobriremos uma outra forma de vida? Qual será o destino da nossa galáxia? Enfim… Essas e muitas outras perguntas sobre o tema costumam ficar sem respostas concretas e novos questionamentos parecem surgir todos os dias.
Com a perspectiva do estabelecimento de viagens espaciais em um horizonte a longo prazo, mais e mais pessoas estão se perguntando sobre o que aconteceria com uma pessoa que viesse a morrer no espaço. O que aconteceria em uma situação desse tipo? Seu corpo se decomporia normalmente? Congelaria? Ou poderia explodir?
Ao longo desse post, nós vamos abordar alguns tópicos que podem ajudar a responder essa pergunta.
Para começar com o cenário mais básico de morte no espaço, vamos considerar simplesmente o ato de abandonar uma espaçonave sem um traje espacial. Primeiro, você teria entre 15 segundos a 2 minutos para tentar sobreviver, período durante o qual seu corpo começaria a inchar, devido à falta de pressão do ar.
Se você prendesse a respiração, o ar nos pulmões se expandiria, romperia esses órgãos e o mataria rapidamente. Se você não prendesse a respiração, poderia permanecer consciente por até dois minutos, porém, quase instantaneamente, a radiação cósmica começaria a queimar sua pele. No entanto, sua morte provavelmente aconteceria como resultado de um quadro de asfixia.
A essa altura, um corpo morto na Terra começaria a se decompor à medida que as bactérias no ar e dentro do corpo começassem um longo processo de decomposição. No entanto, no caso do espaço, não há oxidação, portanto, a decomposição não poderia ocorrer antes do corpo congelar (se ele não estivesse perto de uma fonte de calor) ou mumificar (tendo toda a umidade sendo sugada para fora do corpo).
Se o corpo fosse mumificado, todos os processos biológicos parariam rapidamente, para que não houvesse mais colapso do seu corpo. Ambos os processos aconteceriam rapidamente, mas esse cadáver congelado/mumificado poderia navegar pelo cosmos por milhões de anos antes de encontrar um outro objeto ou força que agisse sobre ele.
Por outro lado, se você estivesse vestindo um traje espacial, a situação seria um pouco diferente, pois o traje conteria todo o ar expirado. Por conta disso, a morte em um traje espacial não seria tão diferente de uma morte na Terra. A decomposição regular pelas bactérias também ocorreria, embora as bactérias usassem rapidamente o oxigênio restante. Nesse ponto, os processos anaeróbicos assumiriam o controle, de modo que a respiração bacteriana mudaria para um processo de fermentação.
Vale destacar que a probabilidade de haver uma fonte constante de calor, para impedir que o cadáver caísse para uma temperatura de quase zero absoluto seria bastante pequena, a menos que o corpo fosse exposto a uma radiação solar consistente.
Flutuar em um traje espacial como um cadáver em decomposição lenta não parece ideal, mas esse não seria o seu destino a longo prazo. Eventualmente, a radiação ao seu redor começaria a quebrar o material do seu traje espacial. O processo poderia levar anos ou até mais, mas eventualmente, quando o traje fosse comprometido e a pressão do ar acumulada no interior fosse liberada, a rápida expansão do ar causaria uma pequena explosão, destruindo o traje e o corpo já em decomposição e enfraquecido.
Qualquer pessoa enviada à ISS (Estação Espacial Internacional) deve ter uma saúde física impecável, o que explica o fato de que nunca houve uma morte nessa estação. No entanto, com viagens mais longas pelo espaço inevitavelmente chegando nas próximas décadas, problemas desse tipo certamente surgirão. A primeira preocupação em caso de morte sob essas circunstâncias seria a segurança da tripulação restante.
Na prática, um corpo em decomposição é um risco biológico e, na atmosfera fechada de uma nave espacial, os gases, o cheiro e os possíveis patógenos que podem ser liberados durante o processo de decomposição são desagradáveis, se não absolutamente mortais. Embora a NASA não tenha divulgado publicamente planos de contingência para esse tipo de evento, as decisões sobre o manuseio de um cadáver seriam deixadas com o comandante da estação.
A solução mais lógica seria manter o cadáver dentro de um traje espacial pressurizado, o que não impediria a decomposição, mas limitaria a exposição a gases. Nesse ponto, o corpo provavelmente seria armazenado na área mais fria da nave, assim como sugere o protocolo em vigor dos submarinos (onde marinheiros falecidos são armazenados perto dos torpedos, a parte mais fria do submarino). Na ISS, o corpo também pode ser armazenado em uma das câmaras de ar.
Uma das opções mais mórbidas seria lançar o corpo no espaço, em oposição ao armazenamento a longo prazo. Para viagens mais longas, devido à natureza “unidirecional” assumida dessas viagens, devolver o corpo à Terra não seria uma alternativa logisticamente viável. Por causa disso, se alguém morresse em Marte, o seu corpo provavelmente continuaria por lá mesmo.
Com tudo o que vimos por aqui, dependendo das circunstâncias de sua morte, você poderia ficar congelado, seco e apodrecendo lentamente caso estivesse usando um traje espacial ou dentro de uma nave espacial. Nesse último caso, o restante da tripulação precisaria encontrar uma maneira de armazenar ou descartar o seu corpo.
O mais interessante de tudo isso é que, dado o nosso fascínio por explorar cada vez mais fundo a expansão do espaço, não há dúvidas de que algumas pessoas morrerão no grande vazio do sistema solar no futuro. Embora isso ainda não tenha acontecido, é apenas uma questão de tempo, e é algo curioso pensarmos que cada morte trágica terá que ser tratada com base nos detalhes específicos de cada missão.
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