Quando alguém fala sobre a “queda de Roma”, esse assunto pode levar muita gente a acreditar que algum evento cataclísmico terminou com o Império Romano, que se estendia das Ilhas Britânicas ao Egito e Iraque. Mas, no fim das contas, a queda de Roma não foi causada por um terremoto de grande magnitude ou por uma horda de inimigos que despacharam o império de uma só vez. Em vez disso, o Império Romano caiu lentamente como resultado de problemas internos e externos.
Por causa desse longo processo, a queda do Império Romano pode ser melhor compreendida como uma compilação de vários acontecimentos que alteraram a grande faixa de dominação romana ao longo de muitas centenas de anos. De fato, a principal causa da queda do Império Romano ainda é um tópico de debate entre os historiadores, talvez porque seja um símbolo do que tememos sobre as nossas civilizações atuais.
No entanto, ao longo desse artigo, nós vamos explorar alguns tópicos que ajudam a mostrar quais foram principais fatores que levaram à queda de um dos maiores impérios da história.
A teoria mais aceita que se presta a explicar o colapso do Império Romano fixa a hipótese de que a queda ocorreu por conta de uma série de perdas militares contra forças externas. Roma havia resistido a vários combates contra tribos germânicas por séculos, mas em meados dos anos 300, grupos “bárbaros” (como os godos) já haviam invadido além das fronteiras do Império. Os romanos até resistiram a uma revolta germânica no final do século IV, mas por volta de 410 o rei visigodo Alarico invadiu com sucesso a cidade de Roma.
Desse modo, o Império passou as próximas décadas sob constante ameaça, até a “Cidade Eterna” ser invadida novamente em 455, desta vez pelos vândalos. Finalmente, em 476, o líder germânico Odoacro encenou uma revolta e depôs o imperador Rômulo Augusto. A partir de então, nenhum imperador romano voltaria a governar um posto na Itália, levando muitos a citar 476 como o ano em que o Império Ocidental sofreu seu golpe mortal.
Ao mesmo tempo em que Roma estava sob ataque de forças externas, o Império também desmoronava por dentro, muito por conta de uma grave crise financeira. Guerras constantes e gastos excessivos haviam esvaziado significativamente os cofres imperiais, enquanto que os impostos e a inflação galopante aumentavam ainda mais o fosso entre ricos e pobres.
Na esperança de deixar o colapso econômico para trás, muitos membros das classes mais ricas já haviam fugido para o campo e constituído feudos independentes. Ao mesmo tempo, o império foi abalado por um déficit de mão-de-obra. A economia de Roma dependia dos escravos para cultivar seus campos e trabalhar como artesãos, sem falar que suas forças armadas tradicionalmente forneciam um novo influxo de povos conquistados para trabalhar.
O problema foi que, quando a expansão romana parou no segundo século, o suprimento de escravos e outros tesouros de guerra começaram a se esgotar. Para piorar a situação, um outro golpe ocorreu no século V, quando os vândalos reivindicaram o norte da África e começaram a interromper o comércio do Império rondando o Mediterrâneo como piratas. Com sua economia minando e sua produção comercial e agrícola em declínio, o Império começou a perder cada vez mais o controle da Europa.
O destino da Roma foi parcialmente selado no final do século III, quando o Imperador Diocleciano dividiu o Império em duas metades: o Império Ocidental (com sede na cidade de Milão) e o Império Oriental, baseado em Bizâncio (cidade que mais tarde ficou conhecida como Constantinopla). A divisão tornou o império mais fácil de ser governado no curto prazo, mas com o passar do tempo, as duas metades se separaram.
Na prática, Oriente e Ocidente falharam em trabalhar adequadamente em conjunto para combater ameaças externas, de modo que os dois frequentemente brigavam por recursos e ajudas militares. À medida que o tempo passava, o Império Oriental (de língua grega) crescia em riqueza, enquanto o Ocidente (de língua latina) entrava em crises econômicas cada vez mais profundas. Além disso, a força do Império Oriental serviu para desviar as invasões bárbaras para o Ocidente.
Desse modo, imperadores como Constantino garantiram que a cidade de Constantinopla fosse fortificada e bem guardada, enquanto que a cidade de Roma (que só tinha valor simbólico para muitos no Oriente) ficava totalmente vulnerável. A estrutura política do Ocidente finalmente se desintegrou no século V, mas o Império Oriental durou por outros mil anos antes de ser dominado pelo Império Otomano em meados de 1400.
Durante a maior parte de sua história, as forças armadas de Roma foram invejadas por muitos. Só que, durante o declínio do Império, a composição das poderosas legiões começou a mudar. Incapazes de recrutar soldados de cidadania romana suficientes, imperadores como Diocleciano e Constantino começaram a contratar mercenários estrangeiros para sustentar seus exércitos.
Embora esses soldados estrangeiros até se mostrassem guerreiros ferozes, eles tinham pouco ou nenhuma lealdade ao Império, tanto é que os oficiais famintos por poder frequentemente se voltavam contra seus empregadores romanos. De fato, muitos dos bárbaros que saquearam a cidade de Roma e derrubaram o Império Ocidental ganharam suas forças militares enquanto serviam nas legiões romanas.
O declínio de Roma coincidiu com a expansão do cristianismo, o que fez com que alguns historiadores chegassem a argumentar que o surgimento de uma nova fé também contribuiu para a queda do Império. Um documento oficial chamado Édito de Milão legalizou o cristianismo em Roma no ano de 313, sendo que a religião se tornaria a oficial do estado em 380. Esse decreto encerrou uma perseguição que já durava séculos, mas também podem ter corroído o sistema tradicional dos valores romanos.
Basicamente, o cristianismo “enterrou” a religião romana politeísta, que via o imperador romano como tendo um status divino. Enquanto isso, papas e outros líderes da igreja assumiam cargos cada vez maiores nos meios políticos, complicando ainda mais a governança já cambaleante.
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