Seja através de maçanetas, teclados, cartões de crédito e celulares, o fato é que nós tendemos a tocar em inúmeras superfícies todos os dias. Isso é um fato da vida que costuma ser ignorado, mas quando quando há um surto de um vírus letal (como a atual pandemia do coronavírus), esse simples hábito de tocar as coisas pode espalhar germes e causar o caos em tempo recorde.
Na maioria dos casos, isso é motivo de grande preocupação, pois alguns vírus podem permanecer na superfície por horas ou até por semanas. O que nem sempre está claro, no entanto, é exatamente quanto tempo uma superfície pode ficar contaminada se uma pessoa doente espirrar ou tocar nela.
Parte dessa incerteza ocorre porque os vírus são bastante complexos e podem apresentar uma variedade de taxas de sobrevivência em diferentes superfícies. Assim, não existe uma regra rígida para quanto tempo um vírus pode sobreviver fora de um hospedeiro, sem falar que o tipo de superfície, juntamente com a temperatura e a umidade do ambiente também entram em jogo.
Ainda assim, a questão é que, à medida que o surto do novo coronavírus (SARS-CoV-2) continua se acelerando em todo o mundo, os suprimentos de limpeza estão desaparecendo das prateleiras e as pessoas estão preocupadas com todos os apoios do metrô, balcões de cozinha e assentos de banheiros que tocam. Mas, afinal de contas, é possível pelo menos estipular o tempo que o novo coronavírus pode permanecer nas superfícies?
Análises recentes constataram que o coronavírus pode permanecer no ar por até 3 horas, em cobre por até 4 horas, em papelão por até 24 horas e em plástico e aço inoxidável por até 72 horas. Estes estudos foram publicados originalmente no banco de dados científico medRxiv em 11 de março e tiveram uma versão revisada que foi publicada em 17 de março na revista acadêmica The New England Journal of Medicine.
O grande problema é que esses períodos são estimativas, visto que o RNA do SARS-CoV-2 já foi encontrado em “uma variedade de superfícies de aeroportos até 17 dias após o desembarque dos passageiros”, de acordo com uma nova análise do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). No entanto, isso foi antes dos procedimentos de desinfecção, de modo que estes dados não podem ser usados para determinar se a transmissão ocorreu a partir de superfícies contaminadas, de acordo com as análises.
Em outras palavras, não está claro se as partículas virais nessas superfícies podem ter infectado pessoas. Outro estudo publicado em fevereiro na revista acadêmica The Journal of Hospital Infection analisou várias dezenas de artigos publicados anteriormente sobre o novo coronavírus para ter uma ideia melhor de quanto tempo ele pode sobreviver fora de um hospedeiro. Os pesquisadores concluíram que o vírus pode permanecer em superfícies como metal, vidro ou plástico por até nove dias.
Este é um longo período, visto que o vírus da gripe comum pode durar em superfícies por cerca de 48 horas. A boa notícia é que, ao que parece, o coronavírus enfrenta dificuldades ao tentar permanecer ativo a temperaturas superiores a 30 graus Celsius. Além disso, esse vírus pode ser efetivamente eliminado com o uso de álcool 70%.
Geralmente, a sobrevivência de patógenos em objetos ou materiais suscetíveis de transmitir infecções é determinada inoculando uma superfície com uma quantidade conhecida do vírus e, em seguida, reunindo amostras em vários intervalos de tempo para determinar a quantidade recuperada. Os cientistas usam essas informações para estimar uma curva de decaimento para os patógenos em superfícies específicas.
Embora cada vírus é capaz de apresentar taxas de sobrevivência distintas com base nas diferentes superfícies, fatores adicionais afetam sua capacidade de resistir fora do hospedeiro. Temperatura e umidade da superfície são os fatores mais importantes que podem afetar a sobrevivência do patógeno. Em geral, os vírus sobrevivem a temperaturas mais baixas com umidade mais alta e superfícies não porosas (como aço inoxidável). No entanto, alguns vírus conseguem sobreviver muito bem com baixa umidade.
Existem muitas teorias sobre se o coronavírus pode perder força nos meses mais quentes porque o ar seco e frio tende a fornecer condições favoráveis à transmissão da COVID-19. No entanto, segundo o Dr. Marc Lipsitch, professor de epidemiologia e diretor do Center for Communicable Diseases Dynamics em Harvard, quando se trata do coronavírus, a “relevância desse fator ainda é desconhecida”, até porque os países de clima tropical também estão apresentando números consideráveis de disseminação do vírus.
É possível que uma pessoa possa ser infectada com o vírus ao tocar em uma superfície ou objeto contaminado e depois tocando em sua própria boca, nariz ou possivelmente seus olhos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). No entanto, esta não é a principal forma de propagação do coronavírus. É mais provável que o vírus se espalhe eficazmente de pessoa para pessoa através de contato próximo, onde gotículas respiratórias de tosses e espirros podem pousar na boca ou nariz de uma pessoa próxima.
Ainda assim, é de extrema importância limpar e desinfetar diariamente superfícies nas áreas mais comuns das residências, de acordo com as recomendações do CDC. As áreas mais vulneráveis das casas incluem mesas, cadeiras com encosto alto, maçanetas, interruptores de luz, controles remotos, campainhas, mesas, banheiros e pias.
Além disso, tanto quanto possível, uma pessoa doente deve ficar em uma sala específica e longe de outras pessoas em sua casa. Caso a pessoa doente tenha um cuidador, este deve tentar ficar longe da pessoa infectada o máximo possível ao limpar e desinfetar as superfícies. Se isso não for possível, o profissional deve fazer o seu trabalho munido de máscaras e luvas para evitar o contágio.
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