Recentemente, a Organização Mundial da Saúde estimou que pode levar, no mínimo, 18 meses para desenvolver e liberar uma vacina contra o novo coronavírus. Para nós, as vacinas parecem ser a única esperança de vencer o vírus de forma eficaz, embora a demora no seu desenvolvimento possa deixar muitas pessoas ansiosas. Porém, o que pouca gente sabe é que esse período de 18 meses é um prazo relativamente rápido em comparação com o procedimento padrão para o desenvolvimento de vacinas.
Para se ter uma ideia, a formulação de uma vacina normal pode levar de 10 a 15 anos, ou até mais. A diferença agora está no fato de que, desta vez, os pesquisadores podem entender completamente a doença, seu patógeno e garantir que as vacinas sejam mais seguras. Mas para entendermos isso melhor, precisamos analisar primeiramente as etapas necessárias para criar uma nova vacina contra uma doença.
O início do processo de produção de uma vacina
Em uma guerra, um oponente deve entender seu inimigo antes de encontrá-lo no campo de batalha. Da mesma forma, os cientistas devem entender uma doença e seu patógeno antes de atacá-la. Para isso, os pesquisadores estudam a biologia básica do patógeno: seu genoma, proteínas e enzimas, forma, estrutura e tamanho, seu padrão de reprodução, como ele causa a doença e a resposta imune contra a doença para descobrir estratégias diferentes para lutar contra ele.
O problema é que é muito difícil estimar quanto tempo essa pesquisa básica levará para gerar respostas eficazes. Diferentes doenças se comportam de maneiras distintas no corpo, sendo que algumas doenças fornecem respostas mais fáceis do que outras. Ainda assim, a pesquisa básica fornece a espinha dorsal do que pode ser considerado o primeiro esforço para criar a fórmula de uma vacina.
Depois que os cientistas entendem como o patógeno age, eles podem finalmente começar a alvejar o seu calcanhar de Aquiles. Eles decidem quais estratégias de vacina (vacinas vivas, atenuadas ou de subunidades) são mais adequadas para armar a substância geradora de imunidade contra a doença. Para isso, os pesquisadores identificam diferentes moléculas antigênicas que induzem uma resposta imune contra a doença e escolhem as fórmulas preliminares mais adequadas.
A maior parte do trabalho durante essa fase consiste em sucessivos erros e acertos. É por isso que leva tempo e algum grau de sorte para chegar a uma formulação que tenha chance de funcionar em humanos. Na maioria dos casos, essa fase geralmente dura de 2 a 4 anos.
Modelos animais e primeiros testes
Antes de passar para os seres humanos, a fórmula da vacina é testada em animais para verificar a sua segurança e eficácia. Modelos animais e culturas celulares servem para imitar o sistema humano. Uma vez dentro de um sistema vivo, a vacina pode não funcionar como pretendido, portanto os modelos animais fornecem informações cruciais sobre como o sistema humano poderá reagir à vacina.
As culturas celulares são uma maneira mais ética de detectar como as vacinas funcionam, além de fornecerem informações sobre as alterações celulares e moleculares que a vacina pode causar. Essa fase pré-clínica pode levar de um a dois anos, sendo que, nesse período, o laboratório também pode diminuir o ritmo do processo para analisar mais cuidadosamente os dados sobre a fórmula e descrever possíveis melhorias ou riscos que a vacina possa ter antes de prosseguir para a próxima etapa.
Após essa etapa, iniciam-se os testes clínicos, até porque só o fato de uma vacina funcionar em modelos animais não garante o seu funcionamento em humanos. Para avançar para a fase de testes clínicos, os fabricantes (geralmente empresas privadas de farmacologia ou biotecnologia especializadas em desenvolvimento de vacinas) terão que obter a aprovação do órgão governamental apropriado.
A fase dos testes clínicos
A fase 1 dos ensaios clínicos consiste em um pequeno grupo de voluntários, geralmente não mais que 100. Nesta fase, os pesquisadores monitoram de perto a segurança da vacina, analisando se ela causa efeitos colaterais, alergias ou outras reações adversas. Este é um passo crucial e, muitas vezes, um teste decisivo que faz com que muitas fórmulas não sejam aprovadas. Além disso, a segurança da vacina é de grande importância, pois trata-se basicamente de um agente de doença sendo injetado no corpo.
Se a vacina for aprovada na fase 1, ela passa para a fase 2, que consiste em um grupo maior de voluntários, onde a sua eficácia em humanos é comparada a um placebo ou uma vacina já existente. A fase 3 é a fase final, sendo a fase em que a vacina fica sujeita à ameaça “real”. Aqui, o número de voluntários é maior, geralmente na casa dos milhares, e todos os parâmetros da vacina, como segurança e eficácia, são verificados minunciosamente caso a caso.
É importante deixar claro que essas fases geralmente têm sub-fases nas quais os tamanhos das amostras podem diferir. Nesses testes clínicos, são geradas informações sobre quanto tempo leva para a vacina fornecer imunidade após a administração da fórmula, quanto tempo dura a imunidade contra as doenças (apenas por alguns meses ou por vários anos) etc. Todas essas fases juntas podem levar mais de 5 anos para ter um resultado conclusivo.
Disponibilização no mercado e uso em larga escala
Após as etapas descritas acima, as empresas podem finalmente obter as licenças para suas vacinas, adquirir suas patentes e disponibilizá-las para todos. No entanto, esses procedimentos podem levar vários meses.
Como você pode ver, as vacinas são formulações biológicas que fornecem imunidade contra uma doença. Pela sua natureza complexa, elas podem levar de 10 a 15 anos para serem produzidas, mas esse período não abrange todos os tipos de vacinas. As vacinas contra a gripe comum, por exemplo, podem ser feitas em cerca de 6 meses. Isso é possível devido às pesquisas e aos dados coletados ao longo de décadas, o que fornece aos pesquisadores um material confiável para trabalhar.
Por outro lado, existem doenças que são muito mais difíceis de combater através de vacinas. Por exemplo, várias organizações estão tentando criar uma vacina contra doenças como HIV e malária, mas uma fórmula 100% bem-sucedida ainda não foi descoberta. Essas doenças são pesquisadas desde o século XX e causaram a morte de milhões em todo o mundo, mas a complexidade desses vírus ainda assola cientistas de todo o mundo.
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