A China é um país comunista que sempre costuma aparecer nas manchetes dos jornais. Seja pelo seu incrível crescimento econômico ou, mais recentemente, por conta da pandemia do coronavírus, esse país parece nunca cansar de nos apresentar certas peculiaridades.
E, por falar em peculiaridades, a China é um dos poucos países que é comunista nos dias atuais, o que consequentemente levanta uma questão interessante: afinal de contas, como e por que a China se tornou uma nação comunista?
Ao longo desse artigo, nós vamos explorar resumidamente alguns fatores que levaram a China a adotar o comunismo como ideologia política e socioeconômica.
A ascensão do comunismo na China se deve, em grande parte, a um homem chamado Mao Zedong. Embora não tivesse recebido uma boa educação quando criança, Mao sempre foi considerado um homem altamente inteligente e com grande capacidade de influência popular. Ainda jovem, Mao tornou-se membro do Exército Nacionalista quando a Revolução Republicana de 1911, liderada por Sun Yat-sen, derrubou a dinastia Qing. No entanto, não demoraria para Mao ser poderosamente influenciado pelas filosofias do marxismo.
Para entender isso melhor, precisamos voltar um pouco no tempo. Após a Guerra dos Boxers (movimento popular antiocidental que livrou a China de todas as influências estrangeiras), os cidadãos da China experimentaram fome, extrema pobreza e sofrimento, resultando na perda de muitas vidas inocentes. Isso preparou o terreno para a aceitação de homens como Mao Zedong e as filosofias comunistas de Karl Marx.
Depois de estar sob o domínio dos senhores da guerra por volta de 1916, muitos chineses começaram a se juntar a grupos revolucionários e partidos políticos na esperança de mudar de país. Foi assim que, durante e após a Grande Revolução (1914-1918), a China viu o surgimento de vários movimentos que promoviam fortemente a ascensão do comunismo, muito por conta do fato de que havia uma grande insatisfação com os caminhos tomados pelo Partido Nacionalista Chinês (Kuomintang).
Esses tempos de caos e desespero tiveram um grande papel na aceitação de Mao. Para se ter uma ideia, ele obteve o apoio de aproximadamente 85% da nação, que por sua vez era majoritariamente formada por agricultores pobres. Em 1921, seus membros fundaram o Partido Comunista Chinês e Mao passou a liderar os ideais dos comunistas até culminar na Revolução Comunista Chinesa de 1949, quando os combatentes revolucionários derrotaram os nacionalistas com um forte apoio da União Soviética.
No final de 1978, a China deu início a uma ampla reforma econômica que mudaria os rumos do país. A reforma, liderada por Deng Xiaoping, só foi possível porque a liderança do Partido Comunista passou a ver as reformas orientadas para o mercado como uma forma de salvar a economia enfraquecida, o que poderia levar a uma convulsão política, principalmente por conta da morte de Mao Zedon, que havia falecido dois anos antes.
As autoridades do Partido Comunista realizaram as reformas de mercado através de duas etapas. A primeira delas, implementada no final da década de 1970 e início da década de 1980, envolveu a descoletivização da agricultura, a abertura do país ao investimento estrangeiro e a permissão para os empreendedores iniciarem seus próprios negócios. No entanto, a maior parte da indústria permaneceu sendo propriedade do Estado.
O segundo estágio da reforma, realizado no final dos anos 80 e 90, envolveu algumas medidas de privatização e contração de grande parte da indústria estatal, embora ainda contasse com a adoção de medidas como controles de preços, políticas protecionistas e regulamentações. No fim das contas, esse projeto deu certo, pois tanto o setor privado quanto as empresas estatais apresentaram um crescimento sem precedentes, com a economia aumentando 9,5% na média anual.
O sucesso das políticas econômicas da China e a maneira como elas foram implementadas resultaram em grandes mudanças na sociedade chinesa nos últimos 40 anos, incluindo uma redução considerável da pobreza, enquanto a renda média e a desigualdade de renda aumentaram. Além disso, essas séries de reformas levaram à ascensão da China como potência mundial e à mudança dos seus interesses geopolíticos internacionais.
Após as enormes mudanças econômicas e sociais que essas reformas desencadearam, podemos descrever a China como um país comunista com economia de mercado ou um país capitalista com um governo comunista? Bem, talvez as duas opções estejam corretas, resultando no chamado “capitalismo de estado”. Até mesmo o próprio Deng era bastante pragmático no assunto, chegando a dizer: “Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace os ratos”.
Embora várias pequenas e médias empresas chinesas tenham alcançado êxito nos mercados de exportação, a maioria delas ainda não é “privada” no sentido ocidental, pois compartilham laços estreitos com o governo local. Além disso, quase todas as grandes e bem-sucedidas empresas chinesas pertencem ao Estado e as poucas grandes empresas genuinamente privadas (como Huawei, Lenovo e Ali Baba) têm fortes ligações com o governo chinês. As empresas estatais também dominam os bancos e os setores de energia e telecomunicações.
Por isso, embora a China dos dias de hoje seja muito mais aberta a negócios do que a China deixada por Mao Zedong, ela ainda não apresenta a cartilha libertária pregada pelo mundo ocidental. Se a China vai se tornar mais ou menos “comunista” com o passar dos anos, isso dependerá do sucesso do país em gerenciar uma sucessão de problemas econômicos que poderão afetar questões futuras envolvendo novos padrões de vida e, portanto, a legitimidade do Partido Comunista Chinês como gerador de progresso econômico.
De momento, a coisa não parece que vai mudar tão cedo, pois embora enfrente alguns problemas, o governo chinês ainda consegue manter as engrenagens da economia chinesa funcionando, fazendo com que a maior parte de sua população experimente um desenvolvimento nunca visto anteriormente nesse país cuja história sempre foi repleta de adversidades.
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