Os protestos contra o racismo realizados recentemente por todo o território dos Estados Unidos escancararam o grande problema racial que assola o país há anos. Embora a morte de George Floyd tenha sido o estopim para tais manifestações, a questão racial nos EUA já vem de longa data, promovendo discussões acaloradas entre os cidadãos americanos que envolvem até mesmo um pedido para o banimento da bandeira dos Estados Confederados. Mas, o que essa bandeira tem a ver com o racismo nos EUA?
Ao longo desse artigo, nós vamos explorar os significados por trás da bandeira dos Estados Confederados e por que o seu uso tem sido motivo de tanta controvérsia nos últimos anos.
O que exatamente é a bandeira dos Estados Confederados?
A bandeira confederada, composta de detalhes em vermelho, branco e azul, além de 13 estrelas, passou a ser reconhecida como um símbolo dos estados do sul dos EUA. Ela entrou em uso na época da Guerra Civil Americana (1861 a 1865), que foi desencadeada pela questão da escravidão. Na ocasião, sete estados do sul (altamente dependentes da agricultura e da mão-de-obra escrava) se rebelaram com a legislação anti-escravidão do presidente Abraham Lincoln e declararam a separação dos Estados Unidos.
No entanto, é importante destacar que a bandeira dos Estados Confederados foi inicialmente adotada como uma bandeira de batalha pelo exército do norte da Virgínia. De fato, ela nunca foi oficialmente adotada como bandeira oficial dos Estados Confederados da América (CSA), mas passou a ser usada como um símbolo dos estados do sul dos Estados Unidos.
Apesar da derrota dos Estados Confederados, a bandeira confederada (também conhecida como bandeira rebelde, bandeira de batalha, bandeira Dixie, bandeira sulista e cruz do sul) continuou a ser hasteada. Na Segunda Guerra Mundial, unidades militares do sul passaram a ostentar a bandeira. Durante o movimento dos direitos civis nas décadas de 50 e 60, a bandeira acabou se tornando um símbolo de segregação e foi adotada pela Ku Klux Klan, organização extremista e reacionária que nasceu com o objetivo de promover a “supremacia branca”.
Por que essa bandeira é tão controversa?
Os apoiadores da bandeira (geralmente americanos sulistas) a veem como um símbolo de sua ancestralidade e herança. Para eles, a bandeira representa a tradição cultural distinta do Sul, que por sua vez é muito diferente do resto dos Estados Unidos. Em suma, ela está ligada à representação dos direitos dos estados contra o que eles consideram uma jurisdição federal dominante. No entanto, para uma boa parte dos americanos, a bandeira é uma representação de escravidão, ódio e supremacia branca.
Só o fato de representar uma guerra travada entre os próprios americanos, a bandeira dos Estados Confederados já causaria polêmica por si só, mas o fato é que a apropriação da bandeira confederada por organizações supremacistas brancas, como a Ku Klux Klan, tornaram o debate sobre ela ainda mais controverso.
Uma pesquisa nacional realizada pelo Pew Research Center em 2011 indicou que apenas 9% dos americanos aprovavam o uso da bandeira, enquanto que 30% disseram reagir negativamente a qualquer uso da bandeira. Na mesma pesquisa, 58% disseram estar indiferentes quanto ao seu uso. Entre os negros, 41% disseram ser totalmente contra a utilização da bandeira por conta do seu poder de invocar a memória da escravidão e as décadas de segregação racial que se seguiu à Guerra Civil.
Os sentimentos são ainda mais fortes na Carolina do Sul, muito por conta de Charleston. Esta cidade era uma espécie de capital americana do comércio transatlântico de escravos, com 40% dos africanos escravizados passando por ela. Já o Mississippi, por outro lado, continua sendo o único estado que ainda apresenta a bandeira confederada em sua bandeira oficial. Uma tentativa de mudar isso foi proposta em 2001, mas a ideia foi derrotada através de um referendo.
A bandeira confederada poderá ser banida nacionalmente algum dia?
Embora seja o epicentro de tanta controvérsia, a bandeira dos Estados Confederados dificilmente será banida de uma vez por todas em todo o território estadunidense. A principal razão para isso é que cada estado americano possui autonomia pra criar suas próprias leis em diversos aspectos. O ex-presidente presidente Barack Obama, por exemplo, acreditava que a bandeira confederada não deveria ser utilizada. Porém, ele não teve autoridade para bani-la ao longo de seus dois mandatos.
Ainda assim, alguns banimentos mais reclusos já foram feitos. Várias leis já foram aprovadas em diversas localidades obrigando a remoção da bandeira confederada de escolas e locais de trabalho sob políticas projetadas para tentar impedir a eclosão de problemas relacionados ao racismo e outros tipos de discriminação.
Dito isto, o fato é que a bandeira confederada continua a gerar controvérsia e debates acalorados até hoje, com implicações envolvendo questões raciais e de liberdade de expressão. Algumas pessoas veem a bandeira como um símbolo de celebração do racismo e consideram o seu uso algo extremamente ofensivo. Para outros, ela representa apenas a herança cultural do sul, de modo que alguns sulistas afirmam constantemente ter o direito de exibir a bandeira do sul confederado quando e onde quiserem.
Leia também: Conheça 5 séries sobre escravidão
Leia também: Por que a bandeira branca virou símbolo de rendição nas guerras?
E você, já sabia dessa polêmica? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!