Se você passou a sua infância assistindo aos desenhos animados do Pica-Pau, existe uma grande chance de você se lembrar do episódio “Vamos às Cataratas”. Neste episódio, o guarda do parque das Cataratas do Niágara se orgulha de seu histórico impecável de impedir que pessoas desçam as cataratas em um barril, mas logo se vê confrontado pelo pássaro travesso. Mas, será que alguém já tentou descer as cataratas em um barril na vida real?
Por incrível que pareça, a resposta é sim! Ao longo desse artigo, você vai ver que o enredo do icônico episódio do Pica-Pau não é tão fantasioso quanto parece. De fato, o próprio desenho foi baseado nos acontecimentos surpreendentes ocorridos nas Cataratas do Niágara.
Curiosamente, a primeira pessoa a conseguir descer as cataratas em um barril e viver para contar a história não foi nenhum dublê habilidoso ou dublê circense, mas uma professora viúva chamada Annie Edson Taylor. Em 1901, Annie estava passando por problemas financeiros quando teve a ideia de descer as cataratas em um barril para garantir fama e fortuna.
Na ocasião, ela usou um barril de carvalho com um interior grosseiramente almofadado, que teve a sua resistência testada ao ser lançado nas Cataratas do Niágara com um gato. O felino ficou traumatizado, mas sobreviveu à queda. Então, em 24 de outubro de 1901, dia em que completava seu 63º aniversário, Annie entrou em seu barril e foi colocada à deriva com a ajuda de um barco a remo. Menos de vinte minutos depois, ela foi recuperada do fundo das cataratas, sem ferimentos.
Embora a façanha de Annie Edson Taylor tenha sido surpreendente, ela nunca ganhou muito dinheiro com seu feito. A coisa piorou ainda mais quando seu agente, que organizou todo o “espetáculo”, fugiu com seu famoso barril. No entanto, o legado de Annie foi grande o suficiente ao ponto de inspirar uma imensa quantidade de imitadores a tentar a proeza de conseguir descer as cataratas em um barril.
Uma década após a descida pioneira de Annie Edson Taylor, Bobby Leach se tornou o primeiro homem a sobreviver às quedas em um barril de metal personalizado, embora tenha quebrado suas mandíbulas no processo. Bobby conseguiu transformar seu título de “primeiro homem a descer as Cataratas do Niágara” em uma carreira bem-sucedida no setor de turismo antes de quebrar uma perna ao escorregar em uma casca de laranja e morrer por conta do acidente em 1926 (pois é, o cara realmente faleceu por conta disso).
Em 1920, o barbeiro inglês Charles Stephens fez história ao se tornar a primeira pessoa a morrer tentando descer as cataratas em um barril. Na ocasião, a bigorna que ele usava como lastro irrompeu no fundo do barril, levando-o junto. Apenas seu braço direito e seu cinto de segurança foram recuperado.
Anos depois, o temerário canadense-americano Jean Lussier decidiu não usar um barril e, em 1928, sobreviveu às quedas em uma bola de borracha e aço de dois metros e meio de diâmetro, que foi posteriormente desmontada e vendida a turistas.
Em 1930, o imigrante grego George A. Stathakis decidiu descer as cataratas em um barril na esperança de arrecadar dinheiro para publicar seus livros sobre metafísica. Ele construiu um enorme barril que pesava quase uma tonelada, o que o tornava quase indestrutível. No dia de sua queda, Stathakis levou consigo sua tartaruga de estimação com mais de 100 anos, Sonny Boy, como um amuleto de boa sorte. No entanto, mal sabia ele que sua tartaruga seria a única sobrevivente.
Durante a descida, o barril do aventureiro acabou ficando preso atrás de uma cortina de água na base das cataratas por mais de 18 horas antes que pudesse ser retirado da estrutura metálica. Quando o barril foi finalmente resgatado, ficou constatado que Stathakis até tinha sobrevivido à queda, mas veio a morrer de asfixia. Já Sonny Boy, a tartaruga, sobreviveu sem grandes ferimentos.
Ao longo da história, não apenas barris, mas numerosos objetos (naturais e artificiais) foram usados por aqueles que nutriam o desejo de descer as Cataratas do Niágara. Boa parte dessas tentativas resultaram em acrobacias bem-sucedidas, mas muitas delas se tornaram grandes acidentes, a maioria dos quais acabou em mortes. Curiosamente, alguns sobreviventes foram condenados a passar um tempo na prisão, uma vez que é ilegal tentar descer as Cataratas do Niágara, independente do “transporte” utilizado.
Estima-se que 5.000 corpos foram encontrados no sopé das cataratas entre 1850 e 2011. Calcula-se também que 40 pessoas são mortas a cada ano varridas pelas cataratas, sendo a maioria das mortes resultantes de suicídio. Outro dado curioso é que a maioria dos saltos ocorre no lado canadense das cataratas, representando entre 55% e 70% dos suicídios. Já a taxa de mortalidade para as tentativas temerárias envolvendo barris é de aproximadamente 25%.
Até hoje, estima-se que 17 pessoas tentaram descer as cataratas em nome da aventura. Destas, 5 morreram e 11 sobreviveram, sendo que a pessoa restante, Kirk Jones, sobreviveu na primeira vez e acabou morrendo na segunda tentativa.
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