Curiosidades

Por que os gatos das pinturas medievais têm aparências tão bizarras?

Muita gente concorda que os gatos são animais fofos e bastante adoráveis. No entanto, basta uma rápida pesquisa no Google para perceber que os gatos das pinturas medievais costumam apresentar traços extremamente bizarros. Faces quase humanas e corpos desajeitados são apenas algumas das características estranhas que esses desenhos apresentam. Mas, afinal de contas, por que os artistas medievais retratavam os gatos dessa forma?

Ao longo desse artigo, você vai ver que essas retratações bizarras dos gatos não eram feitas por acaso. Na verdade, tudo isso era intencional e, por incrível que pareça, tinha uma estreita ligação com a expansão do cristianismo na Europa Medieval.

O papel da religião no simbolismo dos animais na Idade Média

Pouca gente sabe, mas as pinturas medievais eram altamente influenciadas por questões religiosas, especialmente por parte da Igreja Católica. De fato, como já discutimos anteriormente aqui no TriCurioso, os bebês das pinturas medievais têm rostos de adultos também por simbolismos ligados ao cristianismo. No caso dos gatinhos, eles eram retratados com trejeitos esquisitos na Idade Média porque eram animais ligados a religiões pagãs tidas como “rivais” do cristianismo.

É importante destacar que os gatos no Antigo Egito, por exemplo, eram comumente ligados à deusa Bastet, considerada uma divindade solar e deusa da fertilidade, além de protetora das mulheres grávidas. Porém, isso resultou em uma espécie de “perseguição” ao gatos na Europa Medieval. Nesse período, o cristianismo, que vivia seu momento de grande expansão, passou a encorajar a associação dos gatos com demônios e trevas, como parte de uma agenda que tinha como objetivo demonizar fés, rituais e valores pagãos.

Desse modo, muitas coisas consideradas santas por uma outras religiões passaram a ser automaticamente condenadas pelos cristãos medievais. Assim, teve início o capítulo mais sombrio da longa associação dos gatos com a humanidade. Ao longo de séculos, esses animais foram perseguidos e as crueldades que nele se acumulavam recebiam o apoio total da Igreja. De fato, uma vez que os gatos passaram a ser associados ao Satanás, muitos deles foram torturados e mortos para “afastar a má sorte” como um sinal de devoção a Cristo.

Os gatos das pinturas medievais e a sua curiosa relação com o cristianismo

Consequentemente, os artistas medievais, majoritariamente influenciados e bancados financeiramente pela Igreja, passaram a denegrir os gatos artisticamente. Assim, em vez das características fofas que todos nós conhecemos e amamos, os artistas retratavam os gatos com um visual mais sombrio, quase humano, representando uma suposta maliciosidade por parte desses animais. De fato, algumas dessas pinturas de gatos parecem um tanto assustadoras.

Embora a maioria da população da Europa medieval fosse analfabeta, isso não teria importância neste caso, visto que as informações das pinturas são transmitidas visualmente. Além disso, histórias associando os gatos às trevas, à bruxaria e ao submundo, juntamente com os esforços da Igreja em demonizar os valores de outras religiões mais antigas, condenaram os gatos a uma existência insignificante por um bom tempo.

É importante destacar que os gatos não eram os únicos animais a ter simbolismos em pinturas. Na prática, os artistas europeus já atribuíam significados a animais reais e imaginários desde a antiguidade clássica. Por exemplo, como o papagaio apresenta uma estranha capacidade de imitar a voz humana, ele passou a ser relacionado à eloquência.

Seguindo uma linha de raciocínio parecida, o pavão se tornou o símbolo da imortalidade na arte cristã, decorrente da crença antiga de que sua carne nunca se deteriorava. Já o coelho, por ter uma longa relação com a fecundidade, tornou-se um símbolo icônico da luxúria. Por outro lado, os cristãos no início da Idade Média viam os macacos como símbolos do diabo, de forma semelhante aos gatos.

A volta por cima dos gatos

Apesar de toda essa perseguição, os gatos conseguiram dar a volta por cima ainda na Idade Média. Com o passar do tempo, os cristãos medievais viram que os gatos poderiam ser úteis para o controle de pragas. Eles observaram que ratos e outros animais nocivos eram facilmente caçados por esses animais. De fato, as tripulações de navios transportadores de alimentos os consideravam extremamente benéficos, pois eles protegiam remessas de grãos e outras cargas, tanto no transporte quanto no armazenamento.

Além disso, a prática da ailuromancia, pela qual supostamente se poderia prever o futuro observando os movimentos de um gato, também tornou esse animal apreciado por uns e odiado por outros. Em muitas ocasiões, a ailuromancia envolvia a observação de um gato cujo comportamento era supostamente capaz de prever o clima, a chegada de um hóspede inesperado e outras coisas.

Nem todos os “gatos das pinturas medievais” são realmente da Idade Média

O animal na pintura que você pode ver acima, feita pelo artista colombiano Fernando Botero, lembra muito bem um “gato medieval”. No entanto, essa pintura não é necessariamente da Idade Média. De fato, isso deve ser óbvio, pois a pintura também inclui um bule de chá moderno e uma maçaneta que também remonta aos tempos recentes. Além disso, o estilo da cadeira atrás do gato claramente não é medieval. Na prática, isso mostra que nem toda pintura com um “gato bizarro” foi necessariamente produzida na Idade Média.

De certo modo, é até mesmo um fato infeliz quando as pessoas simplesmente assumem que qualquer pintura com um gato feio tem raízes medievais. A arte medieval é realmente fascinante e muito melhor do que a maioria das pessoas acredita, embora realmente tenha muitos simbolismos excêntricos.

Leia também: Como era a vida nos castelos medievais?
Leia também: Por que os gatos eram sagrados no Antigo Egito?

E você, já tinha notado que os gatos das pinturas medievais apresentam características estranhas? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!

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