Existe uma falácia de que nossos ancestrais teriam vivido em total harmonia com a natureza, mas a história não é bem essa. Além das outras espécies humanas, a maior parte das espécies de animais extintos foram justamente extinguidos com a ajuda de nossos parentes primitivos ainda na pré-história. O território australiano, assim como o americano, é um ótimo exemplo.
O que me incentivou a escrever sobre o assunto foi o livro “Sapiens”, do autor Yuval Noah Harari. Durante a leitura, somos apresentados a um ser humano primitivo bem mais verdadeiro do que fantástico, um ser humano que brigava por espaço tanto quanto outros animais.
Muitos cientistas e historiadores atualmente tentam tirar a culpa de nossos ancestrais alegando que, no caso da Austrália por exemplo, o principal fator para tantas extinções em uma mesma era tenham sido consequência de fatores climáticos, e não por intervenção humana. Harari argumenta que tais fatores climáticos por si só não seriam suficientes para dar fim a cerca de 90% da mega fauna australiana. O que faz bastante sentido levando em conta que a maior parte das mudanças ocorreram justamente com a chegada do homem.
O que acontece é que as espécies australianas, assim como as americanas, não conheciam o homo sapiens, enquanto este já havia desenvolvido ótimas habilidades de caça. Os diprotodontes, que podiam chegar a até 3 metros de altura, muito provavelmente tenham ignorado a chegada dos humanos e esse descaso lhes custou a existência. Animais da África e da Ásia – berços dos primeiros homens – foram evoluindo suas técnicas de defesa ao mesmo tempo que os sapiens evoluíam suas técnicas de caça, já os animais australianos não tinham todos esse tempo para estudar as artimanhas humanas ou desenvolver o medo instintivo. Resultado: das 24 espécies de grandes mamíferos australianos, 23 não respiram mais entre nós.
É claro que, talvez, não tenham sido apenas nossos ancestrais os culpados por tamanha extinção em massa, mas sim uma força conjunta com os fatores climáticos. O sapiens primitivo pode apenas ter empurrado os diprotodontes e os leões-marsupiais do abismo que talvez já fosse seu destino final. O que não podemos é isenta-los de culpa.
Mas o fato é: os sapiens não eram nem um pouco engajados ecologicamente como nós, humanos modernos. Se hoje existe desmatamento acelerado ou caça proibida de animais selvagens, isso tudo é contra as leis da maioria dos países, já na pré-história essa era a regra. Os mamutes foram caçados até o último.
Vejam outros animais pré-históricos que possivelmente foram extintos com a ajuda do ser humano:
Diprotodonte – Austrália
Leão-marsupial – Austrália
Genyornis – Austrália
Preguiça-gigante – América
Tigre-dentes-de-sabre – América
O fato do homo sapiens primitivo não ter “abraçado árvores” de maneira alguma nos isenta de nossas responsabilidades. Nós, humanos modernos, somos muito mais responsáveis pelo que acontece ao nosso redor, já que ocuparmos o topo da cadeia alimentar nos dá ao luxo de evitarmos novas extinções em massa sem que isso ameace a nossa própria espécie. Ainda assim atualmente muitas espécies estão a beira da extinção, como as araras-azuis no Brasil ou o rinoceronte-negro extinto em 2013. Os animais marinhos também são vítimas constantes de uma intervenção humana exagerada.
Toda mudança na natureza altera a ordem das coisas e isso vem acontecendo desde antes do surgimento de nossa espécie, a mais evoluída, racional e, porque não, sortuda. Por isso a famosa frase do tio Ben deve realmente ser levada a sério pelo homo sapiens moderno: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
Recomendo a leitura do livro “Sapiens”, do já citado autor Yuval Noah Harari, para que todos possamos entender um pouco mais sobre nossa própria espécie e nossa importância no planeta.