Quando o peso da existência desce sobre os nossos ombros, um dos instintos mais compartilhados entre as pessoas é colocar uma playlist de músicas absolutamente deprimentes para tocar no smartphone. Curiosamente, muitas pessoas costumam dizer que ouvir música triste pode até fazer com que elas se sintam melhor! Só que, embora esse seja aparentemente o caso de muita gente, devemos concordar que é estranho perceber que músicas tão tristes podem deixar alguém melhor emocionalmente, não é mesmo?
Pois bem, aparentemente, ouvir músicas alegres parece ser a coisa lógica a se fazer quando queremos melhorar o nosso humor, mas geralmente ouvimos músicas tristes quando nos sentimos deprimidos simplesmente porque as canções mais “felizes” parecem não ajudar muito. Mas, afinal de contas, por que isso acontece?
A curiosa relação entre músicas tristes e a sensação de bem-estar
A resposta para a pergunta principal desse artigo parece ter a ver com o fato de que ouvir músicas tristes nos faz sentir mais compreendidos. Sendo assim, quando a letra de uma música fala de nossas experiências e a sua melodia transmite emoções semelhantes às nossas, sentimos instantaneamente que não estamos tão “sozinhos”. Em outras palavras, parece que nós tendemos a nos sentir melhor com a nossa situação quando compreendemos que alguém experimentou algo semelhante e entende exatamente como nos sentimos.
Além disso, essas canções deprimentes parecem nos assegurar que não há nada de errado com a forma como nos sentimos. Ou seja, essas músicas de cortar o coração nos dão uma certa validação, ajudando-nos a perceber que o que estamos sentindo é algo completamente natural e humano, consequentemente fazendo com que possamos seguir em frente com mais facilidade.
De fato, acredita-se que ouvir músicas tristes facilita a libertação de sentimentos reprimidos por emoções negativas. Em outras palavras, elas permitem que os ouvintes transfiram suas próprias emoções negativas para a superfície e as expulsem, reduzindo assim a tensão e o estresse. Até mesmo o filósofo grego Aristóteles já sugeria que a sensação de libertar sentimentos reprimidos por emoções negativas poderia servir como uma explicação para o prazer que algumas pessoas sentem pelas artes dramáticas.
A questão envolvendo o hábito de ouvir músicas tristes até mesmo nos momentos felizes
Muitas pessoas preferem ouvir música triste mesmo quando não estão particularmente chateadas, o que é algo surpreendente, dada a natureza desse tipo de canção. Mas, por que exatamente alguém iria querer arriscar estragar um humor perfeitamente bom ouvindo algo tão sombrio? Bem, isso pode ser pelo fato de que a música com tom e letras mais alegres, por si só, costuma ser banal e entediante. De fato, só porque uma música expressa felicidade, não significa que as pessoas sempre querem ouvi-la.
De fato, muitas das pessoas que gostam de músicas tristes diriam que as canções deprimentes são mais “emocionantes” do que qualquer outra forma de música. Para se ter uma ideia, um estudo já descobriu que a música triste pode evocar, além da tristeza, uma série de emoções estéticas positivamente tonificadas. A pesquisa também constatou que as pessoas que pontuavam alto pelo traço de empatia apreciavam mais a beleza da música triste. Na prática, eles simplesmente gostavam da “excitação emocional” que a música triste evocava.
Além disso, a música triste também pode apresentar uma espécie de romantismo que não representa uma ameaça imediata. Em outras palavras, esse romantismo não oferece perigo ou dano direto, diferentemente da emoção real de tristeza experimentada na vida cotidiana. Assim, ela permite aos ouvintes desfrutar de uma emoção naturalmente desagradável, como a tristeza.
A música triste também permite que muitas pessoas reflitam sobre eventos negativos importantes da vida na tentativa de compreendê-los, mesmo que o ouvinte possa sentir alguma tristeza enquanto a ouve. Certos tipos de música triste ajudam a dar início a esse processo de reflexão sobre eventos passados, podendo até resolver problemas e ajudar o indivíduo a tirar conclusões positivas sobre eles.
Enganando o cérebro através da prolactina
Outra razão pela qual muitas pessoas gostam de ouvir músicas tristes tem a ver com o hormônio prolactina. Além da sua conexão com a lactação, a prolactina também desempenha vários efeitos psicológicos. Desse modo, quando ela é liberada em resposta à tristeza (tanto em homens quanto em mulheres), as decepções e outras formas de estresse podem ser amenizadas através de seu efeito analgésico.
De fato, quando você está em um estado de luto, a prolactina é o que produz sentimentos de tranquilidade, calma e consolo, impedindo que o estado de luto aumente incontrolavelmente. Ou seja, quando ouvimos músicas tristes, estamos essencialmente “enganando” o nosso cérebro a pensar que algo melancólico realmente aconteceu, causando um aumento na produção da tal prolactina.
Desse modo, ainda que não haja nenhum sentimento real de tristeza, o efeito produzido pela prolactina já é mais que suficiente para resultar em um estado notavelmente agradável de bem-estar. Além disso, existe a grande vantagem de que, mesmo que o ouvinte se sinta triste depois de ouvir uma música deprimente, ele ainda estará ciente de que está apenas ouvindo uma simples música e que a tristeza que sente não justifica o impacto negativo total de uma verdadeira tragédia na sua vida pessoal.
Uma palavra final
Pessoas diferentes experimentam o sentimento de tristeza de maneiras também distintas, sendo que algumas pessoas podem ser muito mais suscetíveis à tristeza do que outras. Na prática, essas diferenças podem estar ligadas a questões como gênero, normas sociais e culturais, experiências passadas, fisiologia e até mesmo aptidão física.
Por conta disso, os efeitos de ouvir música triste podem ter resultados adaptativos ou inadequados em alguns casos, a depender dos fatores citados acima. Enquanto algumas pessoas que ouvem música triste obtêm resultados agradáveis de prazer e limpeza emocional, outras podem ficar obcecadas com as suas emoções, como se estivessem sendo forçadas a se concentrar em aspectos desagradáveis da vida, perpetuando toda a sua “miséria”.
Em resumo, ouça músicas tristes sempre que precisar de um bom momento de choro ou reflexão, mas não se deixe levar pelos sentimentos deprimentes por muito tempo!
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