Entre julho de 1979 e maio de 1981, foram registrados 29 assassinatos na área de Atlanta, no estado americano da Geórgia. A maioria das vítimas era composta por meninos, todos eles negros. Além disso, esse grupo era formado por jovens adolescentes e crianças. Na época, esse caso ganhou bastante notoriedade, passando a ser chamado pela imprensa e pela comunidade local como “os assassinatos das crianças de Atlanta”.
Em 1981, um homem chamado Wayne Williams (que ganhou destaque na segunda temporada de Mindhunter, da Netflix) foi preso pelo assassinato de dois homens adultos em Atlanta. Consequentemente, muitas pessoas logo chegaram a acreditar que seu rastro de morte poderia ser muito maior, de modo que ele também poderia ser o homem por trás dos assassinatos das crianças de Atlanta.
Embora a sua eventual prisão e condenação por dois desses crimes colocasse um ponto final em seu reinado de terror sobre Atlanta, persistiram as especulações sobre se Wayne Williams era realmente o culpado pelos assassinatos das crianças de Atlanta ou se ele era apenas um bode expiatório conveniente da polícia.
Os assassinatos das crianças de Atlanta
As primeiras vítimas dos assassinatos em Atlanta foram dois meninos, um com 14 e outro com 13 anos, sendo que o segundo havia desaparecido apenas quatro dias depois do primeiro. Ambos foram encontrados mortos lado a lado em 7 de agosto de 1979. Um foi morto ao ser baleado e o outro foi estrangulado. Inicialmente, as autoridades não levaram o duplo assassinato muito a sério, mas os corpos continuariam a se acumular. No final de 1979 já havia mais três vítimas e no verão seguinte, em 1980, mais nove crianças já tinham sido mortas.
A série de assassinatos passou a ser bastante comentada, mas todas as pistas não revelavam nada de interessante para as autoridades locais. Foi só depois do sequestro e assassinato de um garoto chamado Clifford Jones, de 13 anos, que o FBI finalmente interveio na situação. John Douglas, membro do FBI, avaliou um potencial perfil de assassino entre vários suspeitos de Atlanta. Ele havia entrevistado assassinos em série e vários criminosos famosos como Charles Manson e James Earl Ray.
No início dos anos 2000, Douglas havia entrevistado mais de 50 serial killers. Nos registros de seu caso sobre os assassinatos de crianças em Atlanta, Douglas relatou que acreditava que o assassino deveria ser alguma pessoa negra. Ele teorizou que, para ter acesso tão fácil às crianças negras, o assassino de Atlanta precisaria ter acesso à comunidade negra, de modo que uma pessoa branca simplesmente não conseguiria fazer isso sem levantar suspeitas.
No final de maio de 1981, os corpos de 27 crianças e jovens foram recuperados dentro dos mesmos parâmetros investigativos. Alguns desses corpos haviam sido retirados do rio Chattahoochee e, portanto, os investigadores passaram a focar seus esforços nesse local. Foi então que eles se depararam com o caso de Wayne Williams, que havia sido acusado pelo suposto assassinato de dois rapazes (Nathaniel Cater, 27, e Jimmy Ray Payne, 21), o que daria origem a um novo capítulo na investigação.
As suspeitas sobre Wayne Williams
Em fevereiro de 1982, Wayne Bertram Williams foi levado à julgamento e posteriormente condenado com duas penas de prisão perpétua pelos assassinatos de Nathaniel Payne e Jimmy Ray Cater. Williams nunca foi condenado pelos outros assassinatos no caso das crianças de Atlanta, mas ainda assim ele passou a ser considerado pela mídia o “Monstro de Atlanta”.
Embora John Douglas, do FBI, ligasse Williams a pelo menos 20 dos assassinatos, muitos desses casos não tinham sido investigados adequadamente para gerar hipóteses plausíveis. Além disso, embora os assassinatos tenham parado de acontecer quando Williams veio a ser preso, a falta de provas que impediram sua acusação pelo resto dos assassinatos em Atlanta alimentou especulações de uma possível inocência.
Wayne Williams sempre manteve a sua versão dizendo que era inocente desde quando ele foi preso décadas atrás. De fato, em uma entrevista na prisão, Williams chegou a dizer que “aceitava seu destino” e que “Deus tinha um plano para ele”. Mas o que mais chamava a atenção é que muitos moradores de Atlanta, incluindo as famílias das vítimas, disseram acreditar que Wayne Williams não havia cometido os crimes.
A coisa ficou ainda mais suspeita quando a revista Spin publicou um artigo que revelava que o Departamento de Investigação da Geórgia (GBI) suprimiu evidências gravadas que envolviam um membro da Ku Klux Klan nos assassinatos. Assim, em um esforço para evitar conflitos raciais, o GBI manteve essas informações em sigilo, o que levantou suspeitas de que Wayne Williams realmente poderia ser inocente.
Assassino ou inocente?
Por causa de todas essas desconfianças, os advogados de Wayne Williams se referiram à sua prisão como um bode expiatório por parte dos investigadores. No entanto, o mistério dos assassinatos em Atlanta ganhou um capítulo ainda mais controverso em 2010, quando análises de DNA deram uma probabilidade de 98% de que dois cabelos encontrados no corpo de uma das crianças vítimas pertenciam a Williams.
Por conta do resultado da análise do DNA, os funcionários envolvidos na investigação original resolveram manter a sua versão do caso contra Williams, acreditando que ele realmente era o responsável pelos assassinatos das crianças de Atlanta.
Enquanto isso, o suposto assassino em série Wayne Williams ainda cumpre a sua pena perpétua na prisão. Ele foi repetidamente negado a receber liberdade condicional mesmo quando as investigações sobre os assassinatos foram reabertas pela prefeita de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, em 2019. Um porta-voz do conselho de liberdade condicional declarou que a próxima reanálise da situação de Williams deverá ocorrer somente em meados de novembro de 2027.
Um caso cheio de mistérios, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!