Se você já retornou à sua cidade natal depois de muito tempo vivendo em outro lugar, sabe que toda a situação pode parecer um tanto estranha. Enquanto algumas coisas até possam parecer iguais, sempre há algo novo em algum lugar. Além disso, quando você caminha pelas ruas, vê muitas pessoas novas, mas também um número surpreendente de rostos familiares, o que é muito interessante, visto que mesmo depois de anos, ainda há um lampejo de reconhecimento em muitos rostos.
De fato, os seres humanos têm uma curiosa capacidade de reconhecer uma grande quantidade de rostos, ainda que não possamos anexar alguns deles imediatamente a um nome. Desde celebridades de Hollywood e antigos colegas de escola até seus melhores amigos e familiares, temos um catálogo de memória facial em nossos cérebros que é surpreendentemente completo. Consequentemente, uma questão surge naturalmente: afinal de contas, qual é o limite para quantas faces podemos lembrar?
Bem, a resposta exata ainda não sabemos, mas houve alguns desenvolvimentos fascinantes nessa área de estudo nos últimos anos, sendo que as descobertas mais interessantes serão abordadas ao longo deste artigo!
Como e por que lembramos de rostos?
Você provavelmente já teve a experiência de reconhecer o rosto de alguém em uma festa lotada e de ter certeza absoluta de que já viu essa pessoa antes, embora não conseguisse se lembrar de onde. No entanto, isso não é motivo para ter alguma preocupação com o poder do seu cérebro, pois os seres humanos em geral são muito melhores em reconhecer rostos do que lembrar nomes ou outros detalhes contextuais associados às faces.
Nosso sentido visual é definitivamente o mais forte e possui o maior espaço cerebral dedicado a ele, o que faz sentido se levarmos em consideração a nossa história evolutiva. Por milhões de anos, primatas e hominídeos primitivos não tinham uma linguagem definida e, portanto, confiavam amplamente em suas habilidades visuais para discernir membros da família de pessoas estranhas e predadores de presas. Além disso, por conta dos nossos sentidos visuais nítidos, a lembrança de rostos também ocorre naturalmente, pois há muitas variáveis a serem consideradas.
Características como a cor dos olhos, o tamanho do nariz, o formato da boca e até mesmo o estilo de sobrancelha, são alguns dos detalhes que nossos cérebros captam e armazenam automaticamente. Além disso, quando conhecemos alguém, tendemos a conversar com essa pessoa enquanto mantemos contato visual com o seu rosto. Na prática, esse é um estímulo mais duradouro para o cérebro armazenar, diferentemente do que ocorre com o nome da pessoa, que é uma sequência não original de informações audíveis que geralmente só é dita uma vez após a apresentação.
Mais especificamente, a nossa capacidade de lembrar determinados rostos é baseada na área fusiforme da face, localizada no córtex temporal inferior, que é ativado durante as atividades de reconhecimento facial. De fato, sabemos que esse é o caso porque os danos a essa área podem causar uma incapacidade de reconhecer rostos até de entes queridos. Além disso, sabe-se que, quanto mais regularmente somos expostos ao rosto de alguém, incluindo celebridades e figuras públicas, mais reforçado ele se torna em nossa memória.
Quantos rostos somos capazes de reconhecer?
Agora que já sabemos qual é parte do cérebro que nos permite ter uma profundidade de memória tão vasta para os rostos, podemos tentar decifrar quantos rostos podemos lembrar. Pois bem, segundo um estudo recente realizado na Universidade de York, na Inglaterra, e publicado na revista Science em 2018, estima-se que um ser humano pode reconhecer, em média, 5.000 rostos individuais.
À primeira vista, esse número pode parecer impressionante, mas pense da seguinte maneira: se você imaginar voltar no passado por diferentes estágios da vida, diferentes bairros, grupos de amizade, famílias, colegas de classe, colegas de trabalho e, é claro, as centenas de celebridades que você já viu ( vivas e mortas), esse número não parece tão grande assim, não é mesmo?
No estudo, os pesquisadores fizeram os participantes passarem uma hora tentando se lembrar de todas as pessoas que eles conheciam pessoalmente, cujo rosto podiam visualizar mentalmente. No entanto, eles não precisavam incluir os nomes correspondentes, de modo que uma simples descrição do tipo “o vizinho do outro lado da rua” já seria suficiente. Depois disso, os participantes receberam milhares de imagens de celebridades e foram solicitados a identificá-las.
Após a análise dos resultados, ficou claro que a faixa de desempenho variou bastante, pois enquanto algumas pessoas conseguiam ter a recordação de apenas 1.000 rostos, outras conseguiam se lembrar de 10.000 rostos diferentes! A média, no entanto, situava-se em cerca de 5.000.
Os super-reconhecedores de rostos
Obviamente, existem muitos fatores que podem afetar sua capacidade de reconhecer rostos. Algumas pessoas podem simplesmente ter uma maior aptidão para a capacidade, mas o fato é que o ambiente também é algo a considerar. Se você cresceu em uma cidade pequena até os 18 anos de idade, não assistiu muita televisão e se considerada uma pessoa introvertida, sua “coleção de rostos” pode ser menor do que alguém que cresceu em uma grande capital e que tem uma enorme família.
Além disso, existem pessoas que são praticamente incapazes de reconhecer rostos. Se a área da face fusiforme do cérebro estiver danificada ou subdesenvolvida, isso poderá resultar em uma condição chamada prosopagnosia, comumente referida como “cegueira da face”. Isso não afeta a capacidade da pessoa em reconhecer outros objetos ou suas funções, nem prejudica suas habilidades cognitivas ou de tomada de decisão, mas isso pode realmente afetar o nível de contato social com as pessoas ao seu redor.
O extremo oposto do espectro daqueles que sofrem de prosopagnosia são as pessoas comumente referidas como “super-reconhecedores”. Na prática, esses indivíduos têm habilidades de reconhecimento facial significativamente melhores que a média. Acredita-se que eles podem se lembrar de até 80% de todos os rostos que viram em toda a sua vida, diferentemente de uma pessoa comum, que pode reconhecer em torno de 20% dos rostos já vistos.
Embora se saiba que essa habilidade está diretamente relacionada à área da face fusiforme, a ciência exata por trás dessa habilidade notável ainda é desconhecida. Embora o estudo realizado citado anteriormente tenha definido o número 10.000 como o limite superior dos seus participantes, alguns super-reconhecedores podem ser capazes de recordar milhares a mais do que isso!
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