Quando o assunto é o Japão, os filmes de samurais são uma tradição secular. De fato, a cultura pop enquadra esses espadachins como figuras quase míticas da Terra do Sol Nascente, apresentando-os como membros que pertenciam a uma classe de elite de guerreiros japoneses que sempre lutavam de maneira justa, defendiam lealmente seus senhores medievais e seguiam um código de honra unificador conhecido como “bushido”.
Por outro lado, os roteiristas adoram colocar os ninjas no lado mais obscuro da força. Geralmente apresentados como mercenários temíveis, os ninjas dos cinemas dominam uma arte marcial única chamada “ninjutsu”, sendo que as coisas podem ficar ainda mais complexas quando os diretores resolvem lhes conferir poderes sobrenaturais como fuga ou invisibilidade.
Mas, talentos mágicos à parte, o quão precisa é a nossa perspectiva moderna sobre os ninjas e os samurais? Bem, para descobrir, basta analisarmos a história de ambos, enquanto aprendemos algumas coisas surpreendentes a mais no meio do caminho.
Os eventos que pavimentaram a ascensão dos samurais
A história japonesa costuma ser dividida em épocas e períodos. Os relevantes para nossa discussão são o Período Sengoku (de 1467 a 1603) e o Período Tokugawa (ou “Edo”), que durou até 1868. O Período Tokugawa recebeu o nome da família de um shogun que assumiu o controle do Japão em 1603. Os shoguns eram ditadores militares hereditários que governavam o país desde 1192. No papel, eles serviam os imperadores do Japão, mas na prática eles eram muito mais poderosos e comumente eram as pessoas que realmente davam as ordens.
Os séculos anteriores haviam sido atormentados por guerras constantes, mas as coisas ficaram relativamente calmas sob o regime Tokugawa. O comércio internacional era rigorosamente regulamentado e os shoguns se esforçavam para desencorajar brigas políticas. Consequentemente, essa também foi uma época em que o Japão redefiniu sua relação com os samurais. As mudanças foram orquestradas pelo general Toyotomi Hideyoshi, um senhor da guerra que mudou as regras do jogo em todo o país em 1588. Nesse ano os agricultores foram proibidos de possuir armas de qualquer tipo.
Sob as novas regras, apenas os samurais podiam portar armas e, basicamente, as pessoas que haviam lutado sabidamente em batalhas recentes foram consideradas samurais e passaram a serem proibidas de voltar à agricultura, ao mesmo tempo em que as pessoas que cultivavam terras tiveram que entregar suas armas.
As reformas de Hideyoshi foram transferidas para o período Tokugawa. De fato, elas lançaram as bases para um sistema rígido e hereditário de casta, que colocou os samurais acima dos artesãos, camponeses e comerciantes. Quando as guerras feudais que definiram o Período Sengoku sessaram, os samurais passaram a receber papéis burocráticos e administrativos, como a cobrança de impostos.
O surgimento dos ninjas
Agora é hora de falar sobre os ninjas. Supostamente, eles eram mercenários que realizavam operações secretas, organizavam ataques com base na inteligência e, por último, mas não menos importante, assassinavam pessoas na escuridão. As regiões vizinhas de Iga e Kōka, no sudeste do Japão, são geralmente citadas como os principais campos de treinamento onde os ninjas aperfeiçoavam suas habilidades mortais. Curiosamente, os ninjas até formaram uma classe hereditária, não muito diferente dos samurais.
Por causa da história rica em detalhes, dezenas de cinéfilos e artistas marciais transportaram a tradição ninja para a cultura pop, no entanto, os ninjas como os conhecemos hoje (cheios de magia e envoltos em tramas sobrenaturais) são bastante diferentes dos ninjas originais. De fato, a palavra “ninja” vem de dois caracteres chineses que significam “furtividade” e “homem” (忍者), o que por si só já dá a ideia de um combatente focado na execução de ataques precisos e furtivos.
Apesar disso, as fábulas ninjas não são novidade. Até mesmo em meados dos séculos 18 e 19, os ninjas já tinham se tornado um fenômeno da cultura pop no Japão. Na prática, isso também abriu espaço para todos os tipos de representações fantásticas e ficcionais em áreas como arte, literatura, teatro e coisas do gênero.
Uma palavra final
Com tudo o que foi analisado, podemos dizer que uma das principais diferenças entre os samurais e os ninjas é que os samurais eram guerreiros que pertenciam às classes nobres da antiga sociedade japonesa, enquanto que os ninjas eram mercenários, espiões e assassinos que frequentemente pertenciam às classes mais baixas da antiga sociedade japonesa.
Além disso, devido ao fato de que os samurais faziam parte da nobreza, esses guerreiros são frequentemente retratados vestindo quimonos tradicionais dos japoneses antigos. Por outro lado, os ninjas geralmente são vestidos com roupas relativamente mais justas e tendem a ser totalmente vestidos, apenas com os olhos aparecendo. Também vale destacar que as roupas dos guerreiros samurais sempre foram bastante coloridas, com símbolos e imagens, enquanto as roupas ninjas geralmente são de cor preta.
Outra grande diferença entre os samurais e os ninjas é a maneira como eles lutavam. Os samurais eram guiados por um antigo código de ética chamado bushido. Sendo assim, eles precisam garantir o cumprimento de certas regras mesmo quando não estavam em combate. Por outro lado, os ninjas não seguiam nenhum código de ética quando lutavam, fazendo com que seu estilo de luta fosse considerado menos ortodoxo.
De fato, a maneira como os ninjas lutam é o completo oposto do samurai. Por exemplo, os samurais acham mais honroso lutar cara a cara, enquanto que os ninjas são especializados em emboscadas, espionagens, sabotagens, infiltrações e assassinatos. É por isso que os ninjas usam uma variedade de armas diferentes que os samurais não usam, como as “shurikens”, que também são conhecidas como “estrelas ninja”.
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