Desde que Edward Jenner descobriu a vacinação pela primeira vez em 1769, esse avanço salvou inúmeras vidas. Antes da implementação da vacina de Jenner contra a varíola, cerca de 400.000 pessoas morriam da doença todos os anos somente na Europa. O tratamento tradicional contra a doença, a variolação, envolvia a coleta de uma amostra de um paciente com varíola e a injeção em alguém suscetível de contrair a doença.
No entanto, a variolação era arriscada, dado que os médicos estavam inserindo conscientemente o vírus da varíola em outro paciente. Desse modo, se a dose fosse muito alta, o paciente poderia enfrentar toda a força da doença. Por outro lado, a vacina de Jenner adotava uma técnica que, embora fosse semelhante, era significativamente mais segura.
A vacina de Edward Jenner nasceu da observação de que as pessoas que já haviam contraído a varíola bovina não pegavam a doença novamente. Jenner decidiu colocar esse conto à prova científica ao coletar o pus da mão de uma camponesa que havia contraído a varíola e injetar o fluído em um menino saudável. O menino contraiu a doença de forma branda e logo ficou curado, pois se tornara imune a ela. Esta vacina simples iniciou uma revolução no setor de saúde mundial, que por sua vez permanece em evidência até hoje.
Atualmente, nós já temos conhecimento de uma ampla variedade de maneiras de obter imunidade contra doenças. A estratégia de Jenner se diversificou amplamente através de anos de investigação científica. Então… quais estratégias de vacinação estão disponíveis para nós no mundo atual?
Para entendermos do que são feitas as vacinas e apreciarmos as nuances de nossos desenvolvimentos modernos, é importante compreendermos primeiramente como o corpo ganha imunidade contra doenças.
A resposta imune do corpo humano
O nosso sistema imunológico reage aos patógenos (ou qualquer outra partícula estranha) de duas maneiras distintas: a primeira é a resposta primária, onde certas células imunológicas atacam indiscriminadamente qualquer coisa que identifiquem como estranha. Se isso não anular a ameaça, o sistema imunológico chama suas tropas mais especializadas, o que marca o início da resposta secundária.
Na resposta secundária, células especiais (denominadas T e B) são recrutadas para lidar com a ameaça. As células B produzem anticorpos, que agem como “marcadores de morte química” que sinalizam para as células T e várias outras células imunológicas que estas podem terminar de matar qualquer coisa marcada com o anticorpo.
Este sistema é extremamente eficiente, mas quando se trata da vacinação, é precisa “lembrar” o corpo de infecções passadas. Assim, se o mesmo patógeno entrar no corpo novamente, o sistema imunológico poderá combater e acabar com ele mais rapidamente. Portanto, uma vacina pode ser qualquer coisa que dê ao sistema imunológico a capacidade de longo prazo de combater uma determinada doença.
Por isso, o ingrediente chave de uma vacina deve ser algo capaz de fornecer ao sistema imunológico a memória de um patógeno que ainda não foi combatido. Existem várias maneiras de desenvolver essa imunidade, como será explicado abaixo.
Vacina de vírus atenuado
Uma vacina de vírus atenuado segue a mesma rota que a vacina contra a varíola de Edward Jenner. Vacinas vivas atenuadas, como o nome sugere, envolvem patógenos vivos que foram enfraquecidos e que não podem mais causar a doença, mas que ainda conseguem estimular o sistema imunológico. Essa estimulação leva as células imunológicas a desenvolver a memória da doença.
O patógeno enfraquecido pode ser uma espécie ou variante não patogênica ou menos patogênica do organismo causador da doença. O vírus da varíola que Jenner usou, por exemplo, pertencia à mesma família da vacina contra a varíola e, portanto, compartilhava marcadores moleculares semelhantes aos quais o sistema imunológico precisava para combater a doença.
Até agora, as vacinas vivas atenuadas têm sido as vacinas mais bem-sucedidas da história. Essas vacinas criam a maior memória contra um patógeno. Em muitos casos, as pessoas precisam receber uma única dose de vacinação para ter imunidade contra a doença ao longo da vida. Vacinas contra varíola e sarampo são ótimos exemplos de vacinas vivas atenuadas.
Vacina inativada
Se um patógeno vivo atenuado for considerado inviável para combater uma determinada doença (devido a fatores como segurança, efeitos colaterais ou dificuldade em criar uma variante segura), um patógeno morto ou inativado pode ser usado como o componente principal de uma vacina.
Nesse caso, o patógeno é morto (através de tratamentos térmicos ou químicos) e injetado no corpo através da vacina. Como o patógeno ainda é uma substância estranha e carrega todos os marcadores patogênicos, chamados antígenos, ele é capaz de gerar uma resposta imune e induzir a formação de memória.
No entanto, as vacinas inativadas não são tão eficazes quanto as vacinas vivas de vírus atenuado em termos de imunidade ao corpo. Portanto, geralmente é preciso tomar várias doses, que são popularmente chamadas de “reforços”.
Subunidades, DNA e engenharia genética
É importante destacar que existem vacinas em que todo o patógeno não é injetado. Em vez disso, são identificados antígenos específicos do patógeno, de modo que apenas essas moléculas são injetadas no corpo. O antígeno pode ser uma molécula de açúcar no patógeno, uma proteína específica ou, como nos casos de um vírus, apenas seu capsídeo. Assim, podemos injetar uma combinação dessas moléculas de maneiras diferentes para estimular o sistema imunológico da maneira que quisermos.
Existem também vacinas de DNA. Neste caso, em vez de injetar a própria molécula antigênica, é o DNA que codifica essas moléculas que é injetado. Algumas células hospedeiras expressam o código do antígeno no DNA, o que levará à imunização.
Além dessas, existem novas tecnologias de vacinas em desenvolvimento que envolvem várias técnicas de engenharia genética para tornar as vacinas mais seguras e altamente precisas para derrotar doenças como câncer e HIV.
Ao longo dos anos, as vacinas salvaram milhões de vidas. Neste período de pandemia, há uma série de novas tecnologias sendo testadas, como vacinas de mRNA, bem como vacinas adjuvantes projetadas por meio de tecnologias recombinantes. Essas novas estratégias oferecem esperança para a possível cura de doenças virais que continuam a assolar grande parte da população global.
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